O Fed reduz as taxas de juros com três votos dissidentes e projeta um corte em 2026

O Comitê Federal de Mercado Aberto votou na quarta-feira por 9 a 3 para reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para uma faixa entre 3,5% e 3,75%. O comitê também alterou sutilmente a redação de seu comunicado, sugerindo maior incerteza sobre quando poderá reduzir as taxas novamente.

Em declarações à imprensa após a reunião, o presidente Jerome Powell sugeriu que o Fed já havia feito o suficiente para fortalecer a economia contra a ameaça ao emprego, mantendo as taxas de juros elevadas o bastante para continuarem a pressionar os preços.

“Essa maior normalização de nossa política monetária deve ajudar a estabilizar o mercado de trabalho, permitindo que a inflação retome sua tendência de queda para cerca de 2%, assim que os efeitos das tarifas forem dissipados”, afirmou.

Questionado se era uma conclusão inevitável que o próximo passo do Fed seria um corte, Powell hesitou, mas acrescentou que não considerava um aumento da taxa como o cenário base de nenhuma autoridade.

Os investidores reduziram suas expectativas de cortes nas taxas de juros no próximo ano, de três para dois. O índice S&P 500 das ações americanas fechou em alta de 0,7% no dia, próximo de suas máximas históricas, e o rendimento dos títulos do Tesouro americano de 10 anos caiu modestamente para cerca de 4,15%.

As divergências de quarta-feira e as projeções de taxas destacam as divisões entre os formuladores de políticas que surgiram sobre se a fragilidade do mercado de trabalho ou a inflação persistente representam o maior perigo para a economia dos EUA.

Em seu comunicado de outubro, o FOMC descreveu o que levaria em consideração “ao analisar ajustes adicionais” à sua taxa básica de juros. No comunicado de quarta-feira, o comitê retomou a linguagem usada em dezembro passado — pouco antes de uma pausa nos cortes de juros — para dizer “ao analisar a extensão e o momento de ajustes adicionais”.

O resultado marcou a primeira vez desde 2019 em que três funcionários votaram contra uma decisão política, com votos dissidentes em ambos os extremos do espectro político.

Dois presidentes regionais do Fed — Austan Goolsbee, de Chicago, e Jeff Schmid, de Kansas City — votaram contra a decisão, preferindo manter as taxas inalteradas. O governador Stephen Miran, nomeado por Trump para o banco central em setembro, discordou novamente, defendendo uma redução maior, de meio ponto percentual.

Autoridades do Fed também autorizaram novas compras de títulos do Tesouro de curto prazo para manter um suprimento “amplo” de reservas bancárias.

A decisão de reduzir as taxas de juros surge após divergências internas no comitê terem se tornado públicas nas últimas semanas. Após o último corte de juros em outubro, vários membros do comitê alertaram para a persistência da inflação, demonstrando hesitação em apoiar uma nova redução. Outros, por sua vez, mantiveram o foco na fragilidade do mercado de trabalho, defendendo pelo menos mais um corte.

Dados conflitantes ajudam a explicar por que não houve uma votação unânime no FOMC desde junho.

A taxa de desemprego subiu para 4,4% em setembro, ante 4,1% em junho. Mas os preços — medidos pelo indicador de inflação preferido do Fed — subiram 2,8% no acumulado até setembro, ainda significativamente acima da meta de 2% do banco central.

A paralisação do governo complicou ainda mais o cenário político, atrasando a divulgação de dados essenciais.

Apesar das divisões no comitê e da incerteza econômica, os investidores esperavam um corte na quarta-feira, depois que o presidente do Fed de Nova York, John Williams, considerado próximo a Powell, sinalizou seu apoio a uma redução em dezembro em um discurso de 21 de novembro.

Novas Previsões

Em suas novas previsões econômicas, as projeções medianas das autoridades apontavam para um corte em 2026 e outro em 2027. A perspectiva para as taxas de juros, no entanto, permaneceu bastante dividida. Sete autoridades indicaram que preferiam manter as taxas estáveis ​​durante todo o ano de 2026, enquanto oito sinalizaram apoio a pelo menos dois cortes.

Aumentam as divergências na reunião do Fed de dezembro.

Três funcionários discordaram da decisão de reduzir a taxa em 0,25 ponto percentual.

As autoridades revisaram para cima sua previsão mediana de crescimento para 2026, de 1,8% para 2,3%. Elas também previram que a inflação cairá para 2,4% no próximo ano, ante os 2,6% projetados em setembro.

Em sua coletiva de imprensa, Powell disse que esperava que o impacto das tarifas diminuísse no próximo ano.

“Vamos supor que não haja novos anúncios importantes de tarifas — a inflação de bens deve atingir o pico no primeiro trimestre”, disse ele.

A decisão política também surge pouco depois de o presidente Donald Trump ter afirmado, em maio, que já decidiu quem indicará para suceder Powell na presidência do Fed e ter indicado que a decisão será anunciada no início do próximo ano. A Casa Branca tem criticado duramente o Fed por não reduzir as taxas de juros mais rapidamente, alimentando preocupações de que a independência do banco central esteja ameaçada.

Autoridades do Fed aprovaram as novas compras de títulos do Tesouro a partir de 12 de dezembro. A medida era esperada por muitos bancos de Wall Street como uma forma de reforçar a liquidez nos mercados de financiamento overnight.

Desde 2022 e até este mês, o banco central vinha reduzindo o tamanho de suas reservas em títulos do Tesouro, com o objetivo de atingir o menor tamanho possível sem perturbar os mercados monetários.

Matéria publicada na Bloomberg, no dia 10/12/2025, às 16:00 (horário de Brasília)