Vibra investe em transporte de combustíveis por navios, economiza R$ 43 milhões e reduz emissões
A Vibra recorreu à cabotagem para o transporte de combustíveis, com o objetivo de reduzir custos e emissões de gases de efeito estufa, bem como para aumentar a eficiência operacional. A iniciativa ganhou corpo na distribuição de biodiesel, mas etanol e outros derivados também têm sido deslocados pelo mar, com vantagens ambientais e financeiras, segundo o vice-presidente de operações, logística e software da companhia, Marcelo Bragança.
A empresa economizou R$ 43 milhões com as operações, despesa que é repassada para os clientes, num cenário de alta competitividade na distribuição de combustíveis, além de diminuir no ano passado as emissões em 22,5 mil toneladas de CO2, segundo Bragança. A expectativa é que a Vibra aumente em 15% o volume de combustível transportado pelo mar em 2024, frente a 2023.
Cabotagem é o transporte de mercadorias e de passageiros por navio entre duas localidades no mesmo país. Especialistas do setor consideram a modalidade eficiente, porque permite o transporte em larga escala por uma embarcação. Em 2022, o governo estabeleceu um programa que estimula o transporte marítimo por cabotagem, ao criar a lei que ficou conhecida como “BR do Mar”.
Segundo Bragança, a empresa percorre diariamente uma distância em terra que corresponde a 27 voltas no planeta, com custos logísticos elevados, além dos impactos ambientais. Um dos motivos para que a Vibra aderisse à cabotagem foi o biodiesel – em 2024, o diesel comum deve ser vendido após mistura de 14% com o combustível renovável.
A produção de biodiesel é concentrada nas regiões Sul e Centro-Oeste, ao passo que a mistura precisa chegar ao país inteiro, disse o executivo. Para atender ao Nordeste, o biodiesel partia do Mato Grosso por meio de caminhões, aumentando custos e emissões.
A Vibra iniciou um projeto-piloto de biodiesel em 2019 a partir do Rio Grande do Sul, que tem alta produção do combustível. De lá, a companhia enviou cargas por cabotagem até o porto de Suape (PE), observando o comportamento do insumo, uma vez que o biodiesel tem alta absorção de água, o que causa problemas nos motores. “Fizemos testes para garantir a qualidade do biodiesel e observar os desafios”, disse o executivo.
Com o sinal verde após os testes, a Vibra deixou de enviar o biodiesel de Mato Grosso para o Nordeste e passou a enviá-lo a partir do Rio Grande do Sul para Pernambuco. A partir de 2021, quando iniciou o transporte regular das cargas, a Vibra transformou o Estado nordestino em um “hub” de distribuição para suas bases no Nordeste.
Em 2023, a Vibra movimentou mais de 80 milhões de litros de biodiesel em nove viagens de navio, 27% acima do transportado em 2022. Além dos custos menores, a cabotagem evitou mais de 6.100 viagens de caminhão, o que correspondeu a menos 10 mil toneladas de CO2 emitidas. Quando se inclui o envio de etanol, a Vibra evitou a emissão de 22,5 mil toneladas de CO2. Bragança afirmou que, no ano passado, a empresa transportou 196 milhões de litros de etanol do Sudeste para o Nordeste por navios, 14% a mais em relação a 2022. Para esta safra, a expectativa é que o volume transportado aumente entre 20% e 25%.
A Vibra também passou a transportar óleo diesel por cabotagem para um terminal portuário em Maceió, cuja área foi arrematada pela companhia no fim de 2023, em leilão promovido pelo governo. Ainda é uma operação pequena, segundo Bragança, mas que tende a ganhar escala. “Vamos fazer investimentos adicionais para aumentar a cabotagem naquela área”, disse o vice-presidente da Vibra.
A BR do Mar, avalia, aumentou a oferta de navios de bandeira estrangeira operados por empresas brasileiras, o que traz mais competição para a cabotagem e permite tirar caminhões para transporte de combustíveis por rotas mais longas.
Em paralelo, a Transpetro tem sinalizado que pode oferecer serviços marítimos ao mercado, num caminho de diversificar receitas, o que seria positivo, avalia Bragança. Ele lembra que a Transpetro já é uma parceira da Vibra e não descarta conversar com a estatal.
“Quanto mais agentes estiverem operando na cabotagem, a tendência é ter um mercado mais competitivo e, no limite, reduzir custos. Obviamente, parte desse benefício acaba chegando ao consumidor”, concluiu o executivo.
Matéria publicada pelo Valor Econômico no dia 03/09/2024, às 05h01 (horário de Brasília)