Mercado aposta em alta da Selic de 0,25 p.p. na reunião do Copom

A maior parte do mercado já espera que o Banco Central (BC) eleve a Selic em 0,25 ponto percentual na 4ª feira (18.set.2024). De 12 agentes consultados pelo Poder360, 10 apostam no aumento da taxa básica de juros. Seria a primeira alta desde agosto de 2022 – em mais de 2 anos.

A autoridade monetária já havia indicado uma possível alta na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de julho. O documento dizia que o órgão “não hesitará” em aumentar os juros, se necessário. Apesar disso, não houve um comprometimento com a indicação de qual seria o cenário futuro.

Leia abaixo as projeções dos agentes do mercado financeiro:

O Banco Central afirmou na ocasião que elevaria as taxas caso a inflação ficasse fora do controle. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Como consequência, os preços tendem a não aumentar de forma tão rápida.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou 0,02% em agosto, ou seja, houve uma queda nos preços. Apesar disso, alguns fatores estão na mira do Copom:

  • câmbio – o real enfrenta uma desvalorização mais intensa em relação ao dólar em 2024. Está acima de R$ 5 desde 28 de março – o que pressiona a inflação pela variação no preço das importações;
  • economia aquecida – as divulgações de indicadores de empregos e da alta do PIB (Produto Interno Bruto) vieram acima do esperado. Apesar de significar força na economia, os dados também tendem a fortalecer o índice de preços;
  • política fiscal – o Banco Central já disse estar de olho na forma como o governo administra as contas públicas. Poucas medidas foram apresentadas para cortar gastos de forma permanente, mas há várias tentativas de aumentar a arrecadação.

“A autoridade monetária deve renovar no comunicado a promessa de vigilância e o firme compromisso de convergência da inflação à meta, com os membros do comitê, unanimemente, optando por sinalizar a retomada do ciclo de alta na taxa de juros a partir de setembro”, diz um relatório do Itaú sobre as perspectivas para o próximo encontro do colegiado.

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas que serão cobradas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações. Atualmente, está em 10,50% ao ano.

GALÍPOLO PRESIDENTE
A reunião do Copom de setembro será a 1ª com a indicação oficializada de Gabriel Galípolo para o comando do Banco Central. Atualmente, ele é diretor de Política Monetária da autoridade.

Galípolo subiu o tom sobre a condução dos juros depois do encontro de julho. Ele reforçou o posicionamento da ata e disse que aumentaria os juros em uma eventual necessidade. As declarações se deram ainda antes de ser indicado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a vaga a ser deixada por Roberto Campos Neto.

“Estamos dispostos a viver com uma taxa mais restritiva por mais tempo, porém, ficou para mim uma sensação de que essa frase […] foi lida como retirar da mesa a possibilidade de alta. E isso não é a realidade do diagnóstico do Copom. A alta está na mesa e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, declarou o diretor em 12 de agosto.

Gabriel Galípolo participou de 9 reuniões do Copom desde que tomou posse em julho de 2023. Ele votou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em 8.

A única reunião do Copom que divergiu de Campos Neto foi a de maio de 2024 – quando todos os indicados do governo Lula votaram por um corte de 0,50 ponto percentual na Selic. Os integrantes mais antigos optaram por uma redução menor, de 0,25 ponto percentual.

O racha provocou uma reação negativa entre os agentes econômicos. Na reunião seguinte, de junho, todos os diretores votaram pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano.

AS CRÍTICAS DE LULA
O presidente Lula se posicionou de forma ativa contra altas nos juros durante o seu 3º mandato à frente do Planalto. Entretanto, moderou suas falas especificamente em relação a Galípolo – já depois da indicação.

“Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar ‘tem que aumentar os juros’, ótimo. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima e é um brasileiro que gosta do Brasil”, afirmou em 30 de agosto.

O petista diz que o comando do Banco Central não pode ser controlado por um “representante do sistema financeiro”. Segundo ele, o diretor de Política Monetária não tem essa representação.

Lula voltou a criticar Roberto Campos Neto em 13 de setembro, a 5 dias da reunião do Copom. O atual chefe da autoridade monetária vinculou o aumento do salário mínimo a um impacto na inflação. O presidente da República não gostou.

“Agora vem o cara do Banco Central e diz que não pode aumentar o salário mínimo, que esse negócio de pleno emprego pode causar inflação”, disse Lula.

A DIRETORIA DO BANCO CENTRAL
Galípolo ainda precisa passar pela sabatina no Senado antes de virar presidente do Banco Central. Lula agora tem que indicar 3 nomes para o órgão: 2 para substituir diretores que terminam o mandato em 31 de dezembro de 2025 e 1 para a vaga deixada por Galípolo.

Entenda o esquema da sucessão no infográfico abaixo:

POLÍTICA MONETÁRIA
A taxa Selic recuou 3,25 pontos percentuais desde o início do ciclo de cortes. Relembre as decisões do BC nas últimas 8 reuniões:

  • agosto de 2023 – corte de 13,75% para 13,25%;
  • setembro de 2023 – corte de 13,25% para 12,75%;
  • novembro de 2023 – corte de 12,75% para 12,25%;
  • dezembro de 2023 – corte de 12,25% para 11,75%;
  • janeiro de 2024 – corte de 11,75% para 11,25%;
  • março de 2024 – corte de 11,25% para 10,75%;
  • maio de 2024 – corte de 10,75% para 10,50%;
  • junho de 2024 – manutenção em 10,50%;
  • julho de 2024 – manutenção em 10,50%.

Matéria publicada pelo Poder360 no dia 16/09/2024, às 06h00 (horário de Brasília)