Medidas fiscais recentes da China são insuficientes para combater a crise, alerta FMI

As recentes medidas fiscais da China são insuficientes para lidar com os riscos deflacionários que assolam a segunda maior economia do mundo, de acordo com um alto funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Embora essas políticas recentes possam, em princípio, impulsionar a previsão de crescimento de 4,8% do FMI para a China este ano, o governo central “precisa gastar” mais para enfrentar o colapso imobiliário e aliviar as pressões sobre os preços, conforme afirma Krishna Srinivasan, chefe do departamento da Ásia-Pacífico do FMI.

“Acreditamos que as medidas anunciadas não serão suficientes, pois a demanda interna está muito fraca”, disse Srinivasan à Bloomberg News nesta quinta-feira, em Washington. “É preciso garantir que as habitações pré-vendidas sejam concluídas. E, em segundo lugar, a questão dos desenvolvedores viáveis versus os não viáveis precisa ser resolvida.”

Preços das casas na China na pior queda já registrada

Srinivasan sugere que a China deveria destinar cerca de 5% do Produto Interno Bruto para estabilizar o mercado imobiliário. Isso equivaleria a um pacote em torno de 6,3 trilhões de yuans (US$ 885 bilhões), segundo cálculos da Bloomberg baseados nos números do ano passado. Embora Srinivasan não tenha especificado um prazo, o FMI sugeriu anteriormente que esse investimento poderia ser distribuído ao longo de quatro anos.

Investidores e economistas aguardam ansiosos mais detalhes sobre o plano da China para impulsionar a economia em desaceleração. O ministro das Finanças, Lan Fo’an, prometeu neste mês permitir que os governos locais utilizem títulos especiais para comprar imóveis encalhados, mas não estabeleceu um orçamento para o programa. Dias antes, o governo anunciou cortes nas taxas de hipoteca e reduziu o pagamento mínimo para a compra de um segundo imóvel.

Cerca de 50 milhões de famílias devem economizar 150 bilhões de yuans em custos de hipoteca com essa iniciativa, segundo o banco central.

A crise imobiliária já eliminou cerca de US$ 18 trilhões da riqueza das famílias, empurrando a China para sua mais longa sequência de deflação desde 1999, com dados deste mês mostrando que o crescimento econômico desacelerou para o nível mais baixo em seis trimestres.

Questionado sobre quanto tempo levará para que o deflator do PIB — uma medida ampla dos preços na economia — volte a ser positivo, Srinivasan afirmou que “apenas o tempo dirá”. “Tudo depende de como se enfrenta o problema subjacente, que é a demanda doméstica muito fraca”, concluiu.

Matéria publicada pela Bloomberg no dia 24/10/2024, às 19h00 (horário de Brasília)