Putin ameaça Kiev e intensifica ataques à infraestrutura energética da Ucrânia

Vladimir Putin ameaçou usar o novo míssil balístico da Rússia para transformar alvos em Kiev “em pó”, enquanto suas forças usaram munições cluster contra a infraestrutura energética da Ucrânia na quinta-feira.

O presidente russo afirmou que tal ataque com o míssil Oreshnik seria uma resposta ao uso, pela Ucrânia, de mísseis ocidentais de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia.

“No momento, o Ministério da Defesa e o Estado-Maior estão selecionando alvos para atingir em território ucraniano. Esses podem ser instalações militares, indústrias de defesa ou centros de tomada de decisão em Kiev”, declarou Putin na quinta-feira, após uma reunião no Cazaquistão.

Ele acrescentou que o míssil Oreshnik, usado pela primeira vez na semana passada em um ataque a Dnipro, pode destruir instalações subterrâneas altamente protegidas e que sua produção em série já foi iniciada.

“A temperatura dos elementos de impacto atinge 4.000 graus”, disse Putin. “Tudo no epicentro da explosão se desintegra em frações e partículas elementares. Essencialmente, vira pó.”

A ameaça ocorre poucos dias após a Ucrânia fechar seu parlamento na sexta-feira devido a uma suposta ameaça de míssil. O prédio do parlamento ucraniano está localizado no fortemente protegido bairro governamental de Kiev, junto com escritórios do gabinete, a administração presidencial e o banco central.

Quando questionado na coletiva de imprensa sobre se o Oreshnik poderia ser usado contra centros políticos, além de alvos militares, Putin respondeu: “Havia uma piada nos tempos soviéticos sobre previsões do tempo: ‘A previsão é a seguinte: hoje, ao longo do dia, tudo é possível’.”


Rússia ataca infraestrutura energética em toda a Ucrânia enquanto confrontos na linha de frente continuam

Mais cedo, na quinta-feira, 11 regiões ucranianas relataram danos em instalações de energia, com cortes de energia que duraram várias horas enquanto as temperaturas na Ucrânia caíam abaixo de zero. Moradores de Kiev também enfrentaram apagões na quinta-feira.

“Novamente, a indústria de energia está sob ataque massivo do inimigo”, disse o ministro da Energia, Herman Halushchenko, pedindo que as pessoas buscassem abrigo enquanto sirenes de ataque aéreo soavam em Kiev.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, afirmou que “cerca de 100 drones de ataque e mais de 90 mísseis de vários tipos” tinham como alvo as instalações energéticas do país. Ele informou que o uso de munições cluster pela Rússia foi relatado em várias regiões ucranianas.

“O uso desses elementos cluster complica significativamente o trabalho de nossos socorristas e engenheiros de energia na mitigação dos danos, marcando mais uma vil escalada nas táticas terroristas da Rússia”, disse Zelenskyy.

Este foi o 11º grande ataque da Rússia ao setor de energia da Ucrânia neste ano, segundo as autoridades. Após meses com fornecimento normal de energia, a Ucrânia reintroduziu cortes programados para os consumidores há cerca de 10 dias, com as autoridades alertando que cada ataque aumenta a probabilidade de interrupções à medida que as temperaturas começam a cair abaixo de zero.

As regiões ocidentais da Ucrânia, Volyn, Rivne e Lviv, foram as mais afetadas, com centenas de milhares de pessoas sem eletricidade e algumas sem água, de acordo com as autoridades locais.

Os ataques parecem ter como alvo usinas a gás e subestações de instalações maiores, já que não houve relatos de danos em usinas térmicas, hidrelétricas ou nucleares. Naftogaz, da Ucrânia, informou na quinta-feira que suas instalações movidas a gás na região de Lviv foram atingidas, mas os danos foram menores. A Ukrenergo, operadora da rede energética da Ucrânia, informou ao Financial Times que várias de suas subestações foram atacadas.

O Ministério da Energia da Ucrânia disse que as medidas de desligamento de emergência foram tomadas na manhã de quinta-feira para evitar danos ao sistema, mas que o fornecimento de energia foi restaurado. Nenhuma usina nuclear foi desligada, informou o ministério.

A defesa aérea da Ucrânia afirmou ter abatido 90% dos mísseis que se aproximavam, mas 12 não puderam ser interceptados. A Rússia tem utilizado um grande número de mísseis e drones nas últimas semanas para sobrecarregar as defesas aéreas da Ucrânia, empregando armadilhas térmicas e de radar, além de instalar bloqueadores eletrônicos nos mísseis para protegê-los. O clima nublado e com nevoeiro também ajudou a Rússia, acrescentou.

Halushchenko disse ao FT no mês passado que a Rússia tem usado munições cluster em ataques a subestações neste outono para impedir reparos rápidos, já que os trabalhadores não podem ser enviados às áreas afetadas enquanto houver risco de explosões. A Ucrânia tem armazenado transformadores e geralmente consegue reparar subestações danificadas em poucos dias.

Zelenskyy afirmou que os trabalhadores de energia e serviços de emergência estão trabalhando para restaurar a eletricidade e a “normalidade” nas áreas afetadas.

Reiterando os pedidos por mais defesas aéreas ocidentais, ele disse que cada ataque russo “reforça a necessidade urgente de sistemas avançados de defesa aérea na Ucrânia — sistemas que salvam vidas em vez de ficarem ociosos em depósitos.”

“Isso é especialmente crítico durante os meses de inverno, quando proteger nossa infraestrutura energética contra ataques deliberados da Rússia é vital”, acrescentou.

Matéria publicada pelo Financial Times no dia 28/11/2024, às 23h00 (horário de Brasília)