Petrobras deixou de arrecadar mais de R$ 12 bilhões por conta da defasagem
A política de “abrasileirar” o preço dos combustíveis criou um grande desalinhamento do preço praticado no Brasil em relação ao mercado internacional e custou caro a Petrobras.
A equipe especializada da Raion Consultoria calculou o custo do congelamento de preços para a Petrobras no ano de 2024, considerando as médias do Preço de Paridade de Importação (PPI) e do preço praticado nas refinarias da empresa durante esse período.
Foram avaliadas as vendas do Diesel A e B e da Gasolina A e C, levando em consideração a participação da Petrobras na produção doméstica de cada produto. Todos os dados foram disponibilizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).
Média mensal da defasagem do diesel e da gasolina (percentual)

Em 2024, a Petrobras deixou de arrecadar, aproximadamente, R$ 12,75 bilhões. Desse valor, 68% equivalem a defasagem do preço da gasolina, R$ 8,7 bilhões, e 32% da defasagem do preço do diesel, R$ 4,0 bilhões.
Histórico dos reajustes
Julho do ano passado foi quando a Petrobras realizou o último reajuste no preço da gasolina, um aumento de 7,04%. Já o diesel segue sem reajuste desde dezembro de 2023, quando sofreu um corte de 7,85%.
A ausência de novos reajustes está em linha com o discurso de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu “abrasileirar” o preço dos combustíveis e abandonar o PPI. A nova metodologia de precificação foi adotada em maio de 2023, quando o então presidente da empresa, Jean Paul Prates, conseguiu aprovar a nova política de preços.
Antes mesmo de assumir o cargo em junho do ano passado, a atual presidente da Petrobras, Magda Chambriard, já havia se posicionado a favor da nova implementação. “Não é justo contaminar os preços da companhia com as volatilidades do mercado internacional”, disse ela em sua primeira coletiva de imprensa, em maio do ano passado.
Fatores externos
Apesar do protesto de alguns agentes do setor, ao entrar em vigor, a nova prática de preços não promoveu uma grande disparidade de preços em relação ao PPI da forma imediata. No entanto, o impacto de fatores econômicos e geopolíticos fez com que o PPI se distanciasse significativamente dos preços praticados no Brasil.
Dois meses após a implementação, em julho, tanto o WTI quanto o Brent, principais referenciais do PPI, superaram a marca dos US$80.
Cotações dos barris WTI e Brent ao longo de 2023 (dólar/barril)

A elevação nos preços se deu por conta de um crescimento da demanda internacional, resultados positivos das duas maiores economias do mundo (Estados Unidos e China), crescimento acima do esperado do PIB na Zona do Euro e cortes na Arábia Saudita.
No âmbito geopolítico, uma intensificação da hostilidade nas conversas diplomáticas envolvendo a guerra na Ucrânia ajudaram a elevar ainda mais o preço dos barris de petróleo ao redor do mundo. Após a rebelião do Grupo Wagner (um grupo paramilitar russo que anteriormente estava intimamente aliado ao governo de Putin) no mês anterior, o presidente russo reagiu apostando mais uma vez na agressividade do discurso e seguiu proferindo palavras em tom de ameaça ao governo americano, fazendo referência, sobretudo, ao poderio nuclear do exército russo.
Em 31 de julho de 2023, o barril Brent fechava o dia a $85,44 e o barril WTI a $81,27, enquanto o real fechava a R$ 4,74. A defasagem em relação aos preços da Petrobras chegou a 18,4%, R$ 0,69 por litro.
O que aconteceu em 2024
O primeiro ano após a implementação da nova política de preços já foi suficiente para prover diversos indicativos de que a medida não se sustentaria no longo prazo. Com efeito, a crescente desvalorização do real perante o dólar americano, atrelado ao crescimento do risco fiscal, e o preço do barril Brent orbitando os US$ 80, colaboraram fortemente para uma intensificação na pressão do mercado por um reajuste de preços em 2024.
Em abril do ano passado, o barril Brent ultrapassou a marca dos US$ 90 em decorrência de um escalonamento dos conflitos no Oriente Médio, que resultou em uma ofensiva do Irã contra Israel.
Preço do barril Brent ao longo de 2024 (dólar/barril)

A maioria dos mísseis balísticos de longo alcance, lançados em meio a madrugada, foram abatidos pelo sistema de defesa israelense, mas a expectativa de um agravamento dos conflitos na região com alguns dos maiores produtores de petróleo do mundo foi suficiente para alavancar os preços do barril.
De abril em diante, com o lento arrefecimento das tensões geopolíticas internacionais, o preço passou a recuar e se aproximar da média dos US$ 80. Por outro lado, no Brasil, o câmbio se desvalorizava significativamente diante de mudanças na meta fiscal e a elevações na percepção de risco do mercado.
A tendência se perpetuou e, em dezembro, após uma série de incompatibilidades das medidas econômicas do Governo e da expectativa geral do mercado, sobretudo referentes ao pacote de cortes de gastos divulgado em novembro, o dólar chegou a bater a marca dos R$ 6,30.
Cotação do câmbio spot ao longo de 2024 (real/dólar)

Insegurança e incerteza
Pressionada, a Petrobras anunciou que fará um reajuste no preço diesel, mas ainda não revelou intenção de alterar o preço da gasolina. Chambriard avisou ao presidente Lula, em uma conversa no dia 27 de janeiro, que um reajuste seria necessário. Segundo o portal G1, integrantes da Petrobras afirmaram que o impacto na bomba ficará entre R$ 0,18 e R$ 0,24.
De acordo com os cálculos da Raion Consultoria, para se equiparar as cotações internacionais, o reajuste poderia ser de até R$ 0,30.
Os pedidos por uma mudança surgem de uma forte insegurança quanto ao futuro econômico do país e a incerteza quanto ao rumo dos principais fatores geopolíticos que influenciam o preço dos combustíveis. A disparada no preço do dólar alinhada a uma nova onda de alta no preço dos barris de petróleo representaria uma combinação catastrófica para os consumidores.
Baixa no orçamento
A Petrobras anunciou, em janeiro desse ano, o seu plano de negócios até 2029. No documento, foram divulgados os orçamentos disponíveis para diversos setores, prospecções para os próximos 5 anos e informações operacionais da companhia.
Para investimento no setor de refinaria, a Petrobras terá US$ 16,7 bilhões ao longo dos próximos 5 anos. São R$ 97,78 bilhões na cotação atual, cerca de R$ 19,5 bilhões para cada ano.
O valor que deixou de ser arrecadado pela empresa em 2024, em função da defasagem de preços, representa, aproximadamente, 68% do orçamento total de um ano de investimentos em refinaria.
Esse valor também poderia representar cerca de dois meses extras de lucro líquido para a Petrobras. Em 2024, nos primeiros 3 trimestres, a companhia registrou um lucro líquido de R$ 54 bilhões. Se dividirmos esse valor pelos 9 meses, temos R$ 6 bilhões por mês, aproximadamente metade do que deixou de ser arrecadado em 2024.
(a Petrobras ainda não divulgou os resultados do último trimestre do ano passado até o momento dessa publicação)
Matéria desenvolvida pela equipe de comunicação da Raion Consultoria.