Automação, eficiência e novos desafios: a IA no setor de combustíveis na visão da Raion

As inteligências artificiais causam um misto de espanto e fascínio em quem as vê em funcionamento pela primeira vez. Seja na geração de imagens hiper-realistas, na produção de textos complexos ou na análise de grandes volumes de dados, as IAs demonstram uma proficiência impressionante em cada tarefa que executam — e o mais surpreendente é a velocidade com que aprimoram suas capacidades.

A lista de aplicações parece interminável, abrangendo desde a educação e a saúde até o direito e a economia. No entanto, quando voltamos o olhar para o mercado de combustíveis, a discussão sobre os impactos das IAs ainda parece incipiente.

Diante desse cenário, a Raion Consultoria se propôs a explorar essa lacuna, analisando como a ascensão das IAs pode remodelar as dinâmicas do mercado de combustíveis.

Maior demanda energética

Ainda há incertezas quanto ao potencial máximo das IAs, mas uma coisa é certa: seu apetite energético é voraz.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), os data centers consumiram 1,65 bilhão de gigajoules em 2022, o que representou cerca de 2% da demanda global de eletricidade. Para 2026, a IEA projeta um crescimento do consumo energético dos data centers entre 38% e 128%. No cenário mais conservador, isso equivale a adicionar a demanda anual da Suécia à rede elétrica global; no mais extremo, a da Alemanha.

Com esse aumento expressivo na demanda global de energia, os países precisarão ampliar sua capacidade de produção, seja por meio da expansão de fontes renováveis, do aumento da geração a partir de combustíveis fósseis ou da adoção de soluções mais eficientes no consumo energético.

Diante do atual ritmo da transição energética, é seguro afirmar que os combustíveis fósseis continuarão sendo a principal fonte de energia global por mais algum tempo.

Os desafios dessa transição ficam evidentes no mais recente Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Segundo o documento, quase metade das 17 metas apresentam progresso mínimo ou moderado, enquanto mais de um terço estão estagnadas ou em retrocesso desde sua adoção em 2015.

O incentivo aos combustíveis fósseis e a resistência às mudanças necessárias para a transição energética se intensificaram com a eleição de Donald Trump. À frente da maior potência econômica do planeta, Trump declarou emergência energética e, sob o slogan “Drill, baby, drill” (perfurar, baby, perfurar), prometeu resolver a crise aumentando a extração e a produção de petróleo nos Estados Unidos.

Para o mercado de combustíveis, esses fatores podem pressionar os preços para baixo a longo prazo, impactando ativos-chave do setor, como o barril Brent e o WTI. No entanto, o comportamento dos preços dependerá também da resposta da demanda global e das decisões da OPEP+.

O relaxamento das regulamentações ambientais, somado ao crescimento da demanda global por energia, tende a impulsionar a produção de petróleo, aumentando a oferta no mercado. Essa dinâmica pode influenciar a balança comercial global, beneficiando grandes exportadores de petróleo, mas desafiando economias mais dependentes da importação.

Redução do consumo em setores automatizados

Embora o apetite energético das IAs seja quase insaciável, algumas de suas aplicações têm o potencial de ao menos equilibrar a balança do consumo energético.

A automação de serviços permitiria que certas tarefas fossem realizadas com uma fração do consumo energético atual. No setor de transporte de cargas, veículos autônomos poderiam reduzir o consumo energético ao eliminar a necessidade de condutores humanos, diminuindo o peso total e, consequentemente, o gasto de combustível ou eletricidade.

Além disso, veículos equipados com IAs avançadas poderiam otimizar trajetos, evitando congestionamentos, reduzindo frenagens bruscas e maximizando a eficiência do combustível ou da bateria.

Além dos veículos autônomos e da otimização de rotas, a IA também pode reduzir o consumo de combustíveis em outras frentes, tornando a cadeia produtiva mais eficiente e reduzindo desperdícios.

Um dos avanços mais promissores está na manutenção preditiva, que utiliza sensores inteligentes para identificar falhas mecânicas antes que causem interrupções. Isso evita paradas inesperadas, reduz custos operacionais e minimiza o desperdício de combustível.

  • Sistemas inteligentes podem analisar toda a cadeia produtiva de uma empresa e sugerir a melhor distribuição de mercadorias para maximizar o espaço nos veículos e evitar viagens desnecessárias.
  • Sensores em veículos, combinados com IA, podem prever falhas mecânicas antes que ocorram, evitando paradas inesperadas que aumentam os custos operacionais e o desperdício de combustível.
  • Sistemas de IA podem analisar ventos, correntes marítimas e tráfego aéreo para traçar trajetos mais eficientes e intervir em tempo real caso eventos climáticos inesperados se aproximem.
  • Carros, Navios e aeronaves, poderão contar com um sistema inteligente que administra o consumo de combustível, fazendo ajustes no motor ao longo da viagem. Alguns aviões comerciais já possuem IAs integradas que ajustam automaticamente o empuxo do motor para otimizar o consumo.

Embora ainda não seja possível determinar quais dessas inovações serão amplamente adotadas primeiro, algumas empresas já lideram essa transformação.

Um exemplo é a Rolls-Royce, que investe no desenvolvimento de navios autônomos para reduzir significativamente os custos do transporte marítimo. A empresa projeta lançar um modelo completamente autônomo até 2035.

Otimização de operações internas

Assim como a automação está revolucionando os transportes, a inteligência artificial pode otimizar operações internas em empresas do setor, reduzindo custos e aumentando a eficiência. As IAs podem assumir funções repetitivas e previsíveis, reduzindo a dependência de trabalho humano em determinadas etapas operacionais.”

Em uma empresa de transporte de passageiros, por exemplo, sistemas automatizados poderiam assumir tarefas como o abastecimento da frota de ônibus, reduzindo a necessidade de intervenção humana e permitindo realocação da força de trabalho para funções mais estratégicas, ou uma redução direta na folha salarial.

Além de reduzir custos operacionais, a automação pode melhorar a segurança, minimizando riscos de acidentes de trabalho, erros operacionais, riscos ambientais e desperdício de combustível.

Análise de dados e previsão de demanda

A inteligência artificial se destaca pela capacidade de processar volumes gigantescos de dados, transformando informações dispersas em previsões estratégicas. No mercado de combustíveis, essa habilidade pode revolucionar desde a precificação até o gerenciamento de estoques.

A IA pode aprimorar a previsibilidade dos preços ao analisar fatores como clima, tensões geopolíticas e mudanças regulatórias com um nível de precisão sem precedentes. Além disso, algoritmos de aprendizado de máquina podem auxiliar distribuidoras e revendedores na otimização de estoques, reduzindo desperdícios e garantindo o abastecimento adequado.

Com essa capacidade preditiva, a IA pode transformar o conceito de ‘mercado eficiente’ em uma realidade concreta, reduzindo incertezas e aumentando a previsibilidade das operações.

IA aplicada à extração e refino

A inteligência artificial tem sido uma peça-chave na modernização da indústria de petróleo, tornando processos mais precisos, eficientes e seguros.

Empresas petrolíferas já utilizam IA em diversos processos, obtendo resultados promissores. Um exemplo é a análise sísmica, que, por meio de algoritmos avançados, melhora a precisão na descoberta de novos campos, reduzindo custos e riscos operacionais.

Modelos de I.A generativa são utilizados para criar imagens de áreas subterrâneas e permitem que exploradores analisem o subsolo antes mesmo de realizar qualquer perfuração.

No refino, algoritmos de IA podem otimizar reações químicas, ajustando variáveis como temperatura e pressão em tempo real para maximizar a eficiência e minimizar desperdícios. Isso não apenas reduz custos operacionais, mas também pode impactar diretamente a oferta e os preços dos combustíveis, tornando a produção mais previsível e menos suscetível a variações bruscas.

Impacto no mercado de biocombustíveis

Os modelos de linguagem de grande escala (LLMs) vêm despertando interesse em diversas áreas da ciência, pois permitem uma análise mais profunda e sofisticada de fenômenos naturais. No setor de combustíveis, essa capacidade pode impulsionar avanços na pesquisa e no desenvolvimento de biocombustíveis, tornando-os mais eficientes e acessíveis.

Modelos de IA podem acelerar a pesquisa de novas misturas de biocombustíveis ao simular milhões de combinações químicas e prever sua eficiência antes mesmo da produção em laboratório. Isso não só otimiza o uso de matérias-primas, reduzindo desperdícios, como também pode levar ao desenvolvimento de combustíveis com maior poder energético e menor impacto ambiental.

Além de aprimorar biocombustíveis já existentes, a IA pode auxiliar no desenvolvimento de motores projetados especificamente para combustíveis alternativos, como hidrogênio verde ou biocombustíveis sintéticos. A simulação e modelagem computacional baseada em IA pode acelerar a criação de tecnologias que otimizam a combustão e aumentam a eficiência energética.

A IA também pode contribuir para o aumento da produtividade de culturas como soja e cana-de-açúcar, essenciais para a produção de biocombustíveis. Algoritmos avançados permitem o monitoramento inteligente do solo, previsão climática mais precisa e otimização do uso de insumos agrícolas, como fertilizantes e pesticidas. Isso pode reduzir custos, minimizar impactos ambientais e garantir uma oferta mais estável de matéria-prima para o setor.

Novos horizontes

A inteligência artificial se tornou um fenômeno envolto em expectativas e incertezas, crescendo a um ritmo que nem mesmo seus criadores conseguem prever com exatidão.

Apesar da imprevisibilidade de sua evolução, é inegável que a inteligência artificial tem o potencial de ser um dos marcos mais significativos da história humana, independentemente da escala exata de sua aplicabilidade.

As IAs disponíveis hoje ainda representam apenas os primeiros passos de uma tecnologia com potencial para transformações profundas.

Do mercado de combustíveis à educação e à saúde, a inteligência artificial não apenas otimizará processos, mas poderá redefinir os fundamentos sobre os quais muitos setores operam. A única certeza é que sua influência será transformadora.

Matéria de autoria da equipe de comunicação da Raion Consultoria