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O presidente Donald Trump disse que seguirá adiante com novas tarifas sobre o Canadá e o México a partir de terça-feira, uma crítica aos dois maiores parceiros comerciais dos EUA que ressalta seu esforço para reformular o comércio global.

“Não há espaço para o México ou para o Canadá”, disse Trump aos repórteres na segunda-feira quando perguntado se os vizinhos norte-americanos dos EUA poderiam chegar a um acordo para adiar as taxas, como fizeram há um mês. “Estão todas definidas. Elas entram em vigor amanhã.”

A Casa Branca disse mais tarde que Trump também assinou uma ordem dobrando uma tarifa sobre a China para 20%. A diretriz disse que Pequim “não havia tomado medidas adequadas” para lidar com o fluxo de fentanil ilícito para os EUA.

Os comentários de Trump aceleraram uma liquidação nas ações dos EUA, com o S&P 500 caindo 1,8%. O dólar canadense e o peso mexicano caíram. As perdas se espalharam para as ações em toda a Ásia na terça-feira.

Os comentários do presidente acabaram com as esperanças de evitar uma guerra comercial continental total. O primeiro-ministro Justin Trudeau disse na segunda-feira à noite que o Canadá responderá com tarifas retaliatórias, e Trump tem outra rodada de impostos programada para entrar em vigor na semana que vem sobre aço e alumínio.

“Estamos à beira de uma guerra comercial norte-americana”, disse Josh Lipsky , diretor sênior do Centro de Geoeconomia do Atlantic Council . “Os mercados acordaram para o fato de que Trump leva as tarifas a sério.”

Os impostos prometidos há muito tempo estariam facilmente entre os mais abrangentes da era Trump, aplicando-se a cerca de US$ 1,5 trilhão em importações anuais. Eles colocariam uma tarifa de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México, exceto a energia canadense, que enfrentaria uma taxa de 10%.

“Tarifas são fáceis, são rápidas, são eficientes e trazem justiça”, disse Trump. “Vai ser muito custoso para as pessoas tirarem vantagem deste país. Elas não podem entrar e roubar nosso dinheiro e roubar nossos empregos e tomar nossas fábricas e tomar nossos negócios e esperar não ser punidas — e elas estão sendo punidas por tarifas.”

Autoridades do governo Trump deram sinais conflitantes sobre o resultado final para os parceiros comerciais norte-americanos dos EUA, dizendo que tudo dependerá da decisão de Trump sobre o progresso deles.

Há um mês, Trump desencadeou uma enxurrada de ameaças comerciais e sugeriu que a força da economia dos EUA lhe dava mais influência em quaisquer negociações. Agora, o crescimento está mostrando sinais de enfraquecimento, em parte por causa da incerteza generalizada sobre tarifas.

Uma pesquisa privada divulgada na segunda-feira mostrou que a atividade fabril americana no mês passado se aproximou da estagnação — crescimento lento combinado com inflação mais rápida — à medida que novos pedidos e empregos se contraíram. Um indicador de preços pagos por materiais saltou para o maior nível desde junho de 2022.

Após a divulgação dos dados, uma recuperação nas ações dos EUA oscilou, pois os títulos subiram após os dados. Os mercados de ações ao redor do mundo estão superando as ações dos EUA no início de 2025.

O senador Ron Johnson, um republicano de Wisconsin, disse na segunda-feira que estava preocupado que as tarifas de Trump sobre o Canadá e o México iriam exacerbar a inflação. “Você interrompe todos os tipos de linhas de suprimento e cadeias de suprimento e potencialmente aumenta os custos para os consumidores. Há preocupações”, ele disse a repórteres no Capitólio.

As tarifas sobre o Canadá e o México correm o risco de aumentar os preços dos carros nos EUA em até US$ 12.000, de acordo com um novo estudo do Anderson Economic Group, já que as montadoras provavelmente repassarão o aumento dos custos aos consumidores.

Em um sinal de que a Casa Branca estava preparando o terreno para a implementação, Trump no final da noite de domingo alterou as ordens executivas emitidas anteriormente em sua administração. A mudança pausa uma disposição da medida tarifária que visa restringir o frete duty-free e permite que os EUA tenham tempo para desenvolver e implementar um método de impor tarifas sobre itens de baixo valor enviados do México ou Canadá que antes seriam isentos de tarifas.

Durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum disse que seu governo esperará pela decisão final de Trump antes de reagir com medidas retaliatórias. O México não respondeu imediatamente às declarações de Trump mais tarde na segunda-feira.

O Canadá responderá com suas próprias tarifas contra produtos dos EUA. O plano de retaliação que foi revelado por Trudeau no mês passado inclui impostos imediatos sobre C$ 30 bilhões (US$ 20,6 bilhões) em produtos de exportadores dos EUA, incluindo suco de laranja, manteiga de amendoim e café, bem como uma segunda parcela de impostos em algumas semanas sobre cerca de US$ 86 bilhões em produtos, incluindo carros, caminhões, aço e alumínio.

Trudeau disse em um comunicado na segunda-feira à noite que o primeiro lote entrará em vigor às 00h01, horário do leste, na terça-feira, quando as tarifas americanas entrarão em vigor.

“Embora instemos o governo dos EUA a reconsiderar suas tarifas, o Canadá permanece firme na defesa de nossa economia, nossos empregos, nossos trabalhadores e de um acordo justo”, disse Trudeau, acrescentando que “não há justificativa” para as taxas de Trump.

Doug Ford, o premiê de Ontário, acrescentou uma nova ameaça na segunda-feira — cortar as exportações de níquel para os EUA para pressionar seu setor de manufatura. O líder da província canadense também disse que seu governo forçaria as lojas de bebidas a removerem o álcool fabricado nos EUA das prateleiras da província, entre outras medidas.

Resposta da China

A China adotará as contramedidas necessárias para defender seus direitos e interesses contra as tarifas dos EUA, disse o Ministério do Comércio em um comunicado.

Uma série de novas tarifas pode ajudar a aumentar a receita para alguns dos cortes de impostos que Trump quer e acabar, pelo menos por enquanto, com a teoria de que as ameaças descaradas de Trump eram blefes para serem usados ​​como alavanca de negociação.

No entanto, eles também ameaçam reacender a inflação que o Federal Reserve está considerando teimosa, desorganizar as cadeias de suprimentos norte-americanas — especialmente a indústria automobilística — e convidar a contestações legais com base em um pacto continental de livre comércio que o próprio Trump renegociou durante seu primeiro mandato.

Bessent diz que o mercado imobiliário vai “descongelar” em semanas e prevê inflação de 2%

Os planos de Trump também correm o risco de enfraquecer uma economia dos EUA que já está mostrando sinais de tensão. Ações e criptomoedas caíram de recordes recentes, a confiança do consumidor caiu drasticamente e a inflação continua a ferver. Uma nova guerra tarifária ameaça desencadear uma liquidação mais ampla.

O governo de Trudeau refletiu sobre aplicar seu próprio imposto de exportação ao petróleo bruto para garantir que os motoristas dos EUA sintam a dor da guerra comercial de Trump. Ainda não está claro se eles sentirão, e Trudeau está prestes a deixar o cargo.

Em outubro passado, o governo canadense impôs tarifas de 100% sobre veículos elétricos fabricados na China e tarifas de 25% sobre uma lista de produtos chineses de aço e alumínio.

As tarifas propostas por Trump sobre o México se aplicam a todas as importações. Sheinbaum ponderou suas próprias medidas para evitá-las, incluindo potenciais novas tarifas sobre a China. O secretário do Tesouro Scott Bessent chamou isso de “muito interessante” e encorajou ambos os vizinhos a fazerem o mesmo. O Canadá anunciou medidas semelhantes anteriormente.

As negociações EUA-México sobre segurança e combate aos narcóticos estão mais avançadas do que sobre comércio e tarifas, disseram duas pessoas familiarizadas com as discussões. Em uma tentativa de mostrar sua disposição de cooperar com os EUA em segurança, o México entregou na quinta-feira 29 pessoas acusadas de tráfico de drogas e outros crimes para enfrentar acusações nos EUA. Autoridades mexicanas pensaram que isso poderia ser o suficiente para ganhar mais tempo antes que tarifas fossem impostas e permitir que as negociações sobre relações comerciais continuassem, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.

Trump também está planejando outros fluxos de tarifas com base em relatórios devidos a ele até 1º de abril. Um é para as chamadas “tarifas recíprocas”, sob as quais Trump cobrará taxas país a país, com base em cálculos como tarifas de outro país, barreiras comerciais e regimes fiscais. Não está claro se o cálculo “recíproco” incluiria quaisquer tarifas já em vigor, como as medidas do México e do Canadá que Trump vinculou à segurança da fronteira.

“Vamos avaliar isso e dar a eles uma oportunidade de remediar, para que possamos ver um aumento nas tarifas ou, se nossos parceiros comerciais quiserem remediar o que tem sido comércio injusto, poderemos ver as tarifas diminuírem”, disse Bessent no programa Face the Nation da CBS.

Outro fluxo é uma série de tarifas sobre setores específicos. Isso inclui uma tarifa de 25% sobre aço e alumínio que entrará em vigor em 12 de março, e que afetaria fortemente o Canadá e o México.

Trump também está planejando tarifas setoriais sobre automóveis, chips semicondutores e medicamentos farmacêuticos, todos os quais podem ser impostos já em 2 de abril. Ele lançou uma investigação que pode levar a novas tarifas sobre cobre ainda este ano. E no sábado, ele ordenou que o Departamento de Comércio investigasse os danos à segurança nacional causados ​​pelas importações de madeira, estabelecendo as bases legais para novas tarifas — que novamente parecem destinadas ao Canadá.

Canadá e México trabalharam para evitar tarifas, aparentemente sem sucesso. O Canadá nomeou um czar do fentanil e dedicou novas medidas à segurança da fronteira, como Trump havia pedido. Trump disse que não é o suficiente, e um funcionário da Casa Branca disse que a métrica que Trump está observando são as mortes domésticas por fentanil.

Tudo isso gerou confusão sobre o que o Canadá pode oferecer, se é que pode, para evitar uma guerra comercial, já que apenas 70 libras (31,8 kg) de fentanil foram apreendidas na fronteira norte dos EUA ou perto dela desde outubro de 2021 e o país impôs restrições existentes e prometidas à China.

A China também disse que os EUA deveriam se concentrar em “reduzir a demanda interna de drogas” e aumentar a aplicação da lei para coibir o uso doméstico de fentanil.

“O aumento unilateral de tarifas pelos EUA viola seriamente as regras da OMC e é um ato típico de unilateralismo e protecionismo comercial”, disse a Embaixada Chinesa em uma declaração por escrito.

Matéria publicada na Bloomberg, no dia 02/03, às 16:18 (horário de Brasília)