O preço do Diesel vai cair em março?

Em fevereiro, a Petrobras reajustou o preço do diesel para acompanhar as tendências do mercado internacional, após um período de mais de 1 ano de defasagem acumulada. O combustível vinha sendo comercializado no Brasil cerca de R$ 0,20 abaixo das referências internacionais, o que intensificou a pressão sobre a estatal por uma correção.

Pouco mais de um mês após o reajuste, o cenário mudou. A expectativa de um possível acordo de cessar-fogo no Leste Europeu, somado aos planos da OPEP+ de começar a reduzir os cortes vigentes na produção a partir de abril, contribuiu para a queda dos preços do barril de petróleo no mercado internacional. Esses fatores, além da desvalorização do dólar frente ao real, criaram uma defasagem considerável entre as tendências de mercado internacionais e os preços nacionais, mas, dessa vez, é o preço doméstico que está acima.

A queda das cotações de petróleo no mercado internacional já gerou pressões políticas por uma redução nos preços dos combustíveis. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a Petrobras deveria considerar um reajuste diante do novo cenário:

“Com a queda do Brent e o dólar a R$ 5,75, estamos atentos à necessidade de uma redução. Sem nenhuma interferência, respeitando a governança da Petrobras, entendo que já está na hora de avaliar essa possibilidade”, declarou.

Dessa forma, surgem alguns questionamentos: A redução nos preços é inevitável? Ela ocorrerá em breve ou ainda levará tempo?

Para responder a essas questões, a equipe de inteligência de mercado da Raion Consultoria analisou os preços praticados pela Petrobras em 2023 e sua defasagem em relação ao Preço Internacional. O objetivo foi identificar o tempo médio e o nível de defasagem que historicamente levam a estatal a realizar um reajuste.

Os dados revelam que, desde a implementação da política de “abrasileriamento” dos preços, a decisão de realizar um reajuste variou drasticamente a depender do tipo de defasagem. Quando a defasagem esteve positiva (preços nacionais acima do mercado internacional) a Petrobras tendeu a fazer reajustes mais rapidamente do que quando a defasagem esteve negativa (preços nacionais abaixo do mercado internacional).

Também é possível observar uma tolerância mais elevada da empresa em relação ao grau de defasagem. Se esta era positiva, a tolerância era menor. Se era negativa, a tolerância era maior.

Como mostra o gráfico, após a adoção da nova política, a Petrobras levou 3 meses para realizar o primeiro reajuste, mesmo com um grau de defasagem (negativa) média de R$ 0,31. O reajuste seguinte levou, aproximadamente, 2 meses, dessa vez com uma defasagem (negativa) média de R$ 0,51.

Em dezembro de 2023, a Petrobras realizou mais dois reajustes, mas, diferentemente dos anteriores, eles aconteceram em cenários de defasagem positiva, de R$ 0,32 e R$ 0,37, respectivamente. O primeiro, dia 08, aconteceu aproximadamente 1 mês e meio após o anterior e foi sucedido por outro logo em seguida, no dia 27. Ambos representaram cortes nos preços.

Já em 2024, a Petrobras não realizou nenhum reajuste nos preços, mesmo com uma defasagem média de R$ 0,08 ao longo do ano.

O que se pode concluir, baseado no histórico de reajustes desde a implementação da nova política de preços, é que existe um ímpeto maior da estatal para realizar reajustes quando os preços nacionais estão acima dos referenciais internacionais.

Para entender melhor esse comportamento, é necessário avaliar outros fatores que também influenciam nas tomadas de decisão por trás dos reajustes.

Vantagens políticas

Além das variáveis econômicas, o contexto político pode desempenhar um papel importante. O governo atual tem enfrentado dificuldades para atender às expectativas do mercado em relação ao controle das contas públicas. Com juros e inflação elevados e sem sinais claros de melhora no curto e médio prazo, o descontentamento da população cresce.

Como reflexo desse cenário, a popularidade do presidente Lula sofreu uma queda significativa no último ano, chegando a índices de desaprovação de até 60% em algumas regiões do país.

Um corte nos preços dos combustíveis pode representar uma alternativa de descompressão para o governo. Representantes, como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, podem pressionar a estatal para realizar um reajuste o quanto antes a fim de obter essa alavancagem política.

Desvantagens econômicas

Se, por um lado, uma redução no preço dos combustíveis pode ser politicamente favorável ao governo, para a Petrobras há um forte incentivo para adiar esse movimento. A defasagem atual permite que a estatal venda o diesel acima do preço praticado no mercado internacional, ampliando sua margem de lucro.

No entanto, conforme os preços domésticos se distanciam das referências internacionais, a importação se torna mais atraente para as distribuidoras. Se os valores internos permanecerem elevados por muito tempo, a Petrobras pode perder market share para produtos importados. Em um cenário de grande defasagem positiva, a queda no volume de vendas pode superar os ganhos proporcionados pelos preços mais altos, tornando a estratégia insustentável no longo prazo.

Volatilidade econômica

A Petrobras já enfrentou períodos prolongados de defasagem em 2024 sem realizar reajustes. Esse comportamento só foi possível devido a uma combinação favorável de fatores externos.

No primeiro semestre do ano passado, o barril Brent atingiu picos de até US$ 92,00, ampliando significativamente a defasagem dos preços domésticos em relação ao PPI. No entanto, a valorização do real, que manteve o câmbio próximo a R$ 5,00, ajudou a amenizar esse descompasso.

Já no segundo semestre, a situação se inverteu. À medida que o real se desvalorizava, os preços internacionais do petróleo recuavam, voltando a oscilar em torno de US$ 70,00. O barril Brent encerrou o ano na faixa de US$ 75,00, enquanto o dólar ultrapassava os R$ 6,10. Esse cenário de forças opostas permitiu à Petrobras manter os preços estáveis, evitando reajustes mesmo diante de oscilações na defasagem.

O Dilema do reajuste

Diante desse contexto, a decisão da Petrobras sobre um possível reajuste dependerá do equilíbrio entre os fatores políticos e econômicos. A pressão do governo por uma redução nos preços pode acelerar o movimento, especialmente em um cenário de popularidade em queda e de dificuldades econômicas que impactam diretamente o consumidor. No entanto, a estatal precisa considerar os impactos financeiros de um corte, já que a atual defasagem positiva favorece sua rentabilidade e evita uma perda imediata de receitas.

Além disso, a volatilidade do mercado adiciona um elemento de incerteza à equação. Caso o barril de petróleo volte a subir ou o câmbio se desvalorize, a defasagem pode se reduzir naturalmente, alterando a necessidade de um reajuste. Assim, embora a pressão por uma redução nos preços dos combustíveis esteja crescendo, a Petrobras deve avaliar o momento ideal para agir, levando em conta não apenas o histórico de reajustes, mas também as perspectivas futuras do mercado global e da economia doméstica.

Visão da Raion Consultoria

Na visão da equipe de inteligência de mercado da Raion Consultoria, as vantagens políticas devem prevalecer. O reajuste de fevereiro, que elevou o preço do diesel, gerou um impacto negativo para o governo, intensificando críticas em um momento já delicado da economia. O aumento afetou diretamente setores estratégicos, como transporte e agronegócio, ampliando o descontentamento de grupos que já vinham demonstrando insatisfação com a condução da política econômica.

Agora, com a defasagem positiva abrindo espaço para uma correção, o governo tem a oportunidade não apenas de reverter esse desgaste, mas de adotar um corte mais expressivo do que o reajuste anterior, transformando a narrativa em favor da gestão. Além de aliviar as pressões populares, uma redução significativa nos preços dos combustíveis poderia ser explorada politicamente como uma resposta eficaz às demandas da sociedade, ajudando a recuperar parte da popularidade perdida nos últimos meses.

Por fim, até o momento, não há nenhum indicador claro de que as referências internacionais voltarão a se aproximar dos preços do mercado interno no curto prazo. Logo, diante de uma defasagem positiva que não deve ser corrigida naturalmente pelas oscilações do mercado, a Petrobras tem uma boa margem técnica para realizar um corte nos preços dos combustíveis nas próximas semanas.

Matéria de autoria da equipe de comunicação da Raion Consultoria.