À espera de um fato novo: Raion Consultoria analisa possíveis impactos da Guerra no Oriente Médio nos preços dos combustíveis no Brasil

O recente agravamento das tensões no Oriente Médio, com o envolvimento direto dos Estados Unidos nos bombardeios realizados no último fim de semana, acendeu um alerta nos mercados globais de energia. Apesar do impacto psicológico imediato, os efeitos concretos sobre os preços dos combustíveis no Brasil e, de maneira geral, sobre o mercado internacional de petróleo, permanecem, até o momento, relativamente controlados.

De acordo com a análise da Raion Consultoria, o movimento observado nos preços do barril foi de recuo, refletindo um mercado que opera sob cautela, mas que, por ora, não precifica uma escalada descontrolada do conflito.

Na tarde de segunda-feira (23), o Irã retaliou o ataque dos EUA, tendo como alvo uma base militar dos Estados Unidos no Catar. Porém, todos os mísseis foram interceptados e, consequentemente, não houve fatalidades. Desse modo, as cotações do barril recuaram na ordem de 7%, indo de US$ 76 por barril para US$ 71 por barril.

Um dos principais pontos de atenção nesse contexto geopolítico é o Estreito de Ormuz, passagem estratégica por onde circula aproximadamente 20% de todo o petróleo comercializado no mundo.

Localizado entre o Irã e os Emirados Árabes Unidos, o estreito funciona como um gargalo logístico vital para o fluxo de petróleo proveniente das principais economias produtoras do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Iraque, Kuwait e os próprios Emirados.

Diante das recentes tensões, o parlamento iraniano chegou a autorizar uma eventual decisão de bloqueio do estreito, movimento que, na prática, teria capacidade de gerar um choque imediato e significativo nos preços globais do petróleo. No entanto, a decisão final sobre essa medida extrema cabe ao líder supremo do país, o Aiatolá Ali Khamenei e, até aqui, não há sinalização clara de que essa ordem será de fato emitida.

Além disso, o cenário geopolítico impõe severas limitações à adoção de uma medida dessa magnitude.

A própria China, um dos principais parceiros comerciais do Irã e grande importadora de petróleo da região, já se posicionou abertamente contra qualquer bloqueio do estreito, deixando claro que a estabilidade do fluxo energético é de interesse global.

Também é importante destacar que uma ação desse tipo colocaria o Irã em rota de colisão não apenas com o Ocidente, mas também com países vizinhos, como a Arábia Saudita, cujo equilíbrio econômico depende fortemente da exportação contínua de petróleo através de Ormuz.

Esse contexto ajuda a explicar por que, embora o risco de um bloqueio gere, de fato, ansiedade nos mercados e atue como um dos principais vetores de incerteza no curto prazo, sua probabilidade real de ocorrer permanece relativamente baixa.

Essa percepção, compartilhada pelos principais agentes do mercado, contribui diretamente para evitar uma escalada descontrolada nos preços do barril de petróleo, ao menos por enquanto.

O quadro se completa com um fator adicional: o enfraquecimento relativo do Irã em termos militares e econômicos.

Ainda que haja possibilidade de expansão do conflito, o fato é que o Irã,  principal patrocinador das milícias envolvidas nos embates regionais, como Hezbollah, Houthis, Hamas e facções iraquianas, atravessa um momento de enfraquecimento relativo em termos de capacidade militar e econômica.

As sucessivas rodadas de sanções internacionais, problemas econômicos internos e desgastes militares, tanto no apoio logístico quanto no financiamento dessas milícias, reduzem a margem de manobra do regime iraniano para sustentar uma guerra aberta de larga escala contra potências ocidentais.

O Irã, hoje, embora ainda exerça influência relevante na região, tem seu poder militar fortemente limitado pela necessidade de evitar uma deterioração interna mais grave.

Esse quadro se agrava pelo fato de sua principal aliada no cenário global, a Rússia, estar profundamente comprometida com a guerra na Ucrânia.

As Forças Armadas russas enfrentam desafios logísticos, perdas materiais e humanas significativas e estão alocando grande parte de seus recursos para sustentar o conflito no Leste Europeu. Na prática, isso limita severamente a capacidade da Rússia de prestar apoio militar substancial ao Irã ou de se engajar de forma direta em um novo front no Oriente Médio, mesmo que o presidente Putin tenha se mostrado disponível em auxiliar o Irã em conversas preliminares.

Além disso, há de se considerar o equilíbrio delicado que envolve as principais economias globais.

Tanto Estados Unidos quanto União Europeia, China e outros grandes agentes têm interesses diretos na preservação do fluxo estável de petróleo e gás no mercado internacional. Esse fator atua como um importante freio contra uma escalada que comprometa de forma significativa a rede mundial de abastecimento.

Na prática, embora o conflito tenha potencial para gerar choques localizados, gargalos logísticos temporários e picos especulativos nos preços internacionais do petróleo, esses efeitos só devem se materializar caso haja um novo fato relevante que acentue as tensões — cenário que, neste momento, não parece ser o mais provável.

A confirmação de um cessar-fogo entre Israel e Irã, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na manhã desta terça-feira (24), reforçou ainda mais a percepção de alívio no mercado.

A trégua foi suficiente para provocar uma forte queda nos preços do barril de petróleo, que já refletiam uma baixa probabilidade de escalada severa do conflito.

Embora a fragilidade do acordo tenha sido rapidamente exposta, com Israel acusando Teerã de violar os termos poucas horas após o anúncio, e o Irã negando, o simples fato de as partes aceitarem negociar já representa um sinal claro de descompressão nas tensões.

Assim, se o cenário anterior já apontava para riscos moderados, o cessar-fogo funciona como o último sopro para apagar a chama oscilante que restava no mercado.

Por ora, o mercado segue operando sob vigilância, atento a cada movimento diplomático e militar, mas sem grandes saltos nos preços.

Isso não significa que os riscos sejam desprezíveis. Conflitos dessa magnitude, especialmente em uma região estratégica para o fornecimento global de energia, exigem constante monitoramento e prudência.

E qual é a visão da Petrobras?

Em linha com esse cenário de cautela, a Petrobras também adota uma postura de acompanhamento atento, mas sem movimentos precipitados.

Segundo fontes da companhia ouvidas pela agência Reuters, a estatal monitora as oscilações do mercado internacional, mas só considera um eventual ajuste nos preços caso haja uma mudança estrutural no patamar do petróleo Brent e não meramente uma volatilidade pontual.

“Está todo mundo preocupado nesse momento geopolítico… Não há dúvida. O que a gente tem aí, estamos olhando atentamente, é como é que o preço do Brent vai se comportar. O importante é que com a nossa política a gente removeu a volatilidade. Removeu a volatilidade, não preciso sair correndo, fazendo um ajuste”, afirmou uma das fontes sob condição de anonimato.

Além disso, a Petrobras reforça que o câmbio e a cotação do petróleo são variáveis importantes, mas não são os únicos critérios utilizados. A empresa também leva em conta a competitividade de seus preços frente ao mercado interno e externo.

Historicamente, a estatal tem buscado blindar o mercado doméstico de oscilações de curto prazo, adotando uma estratégia de reajustes mais espaçados e alinhados a movimentos consistentes do mercado global.

Portanto, não há indicativo de novos reajustes no Brasil, salvo no caso de uma escalada severa e sustentada do conflito que impacte de forma estrutural os preços internacionais do petróleo.

De olho nos preços!

É comum, em cenários de alta volatilidade como o que acompanhamos nos últimos dias, que alguns fornecedores tentem se antecipar a movimentos do mercado para justificar reajustes nos preços aos clientes. No entanto, como ficou evidente, não há, neste momento, qualquer justificativa técnica robusta para aumentos significativos no preço dos combustíveis.

Inclusive, é importante destacar que, no estopim do envolvimento americano no conflito, os preços do barril de petróleo chegaram, sim, a disparar de forma expressiva. Esse movimento gerou, temporariamente, uma defasagem de até R$ 0,40 por litro no preço do diesel praticado pela Petrobras em relação ao mercado internacional. Contudo, esse salto mostrou-se ser apenas um sintoma da volatilidade pontual, alimentada pelo cenário de incertezas globais.

Com o passar dos dias e diante da percepção de que a escalada do conflito seria contida, os preços foram recuando gradualmente. E, com o eventual anúncio do cessar-fogo entre Israel e Irã, essa defasagem desapareceu, fazendo os preços do barril de petróleo ficarem abaixo dos US$ 70 e voltarem a patamares compatíveis com a realidade do mercado internacional.

Por isso, é fundamental que consumidores — especialmente empresas, transportadoras e grandes consumidores industriais — estejam atentos e questionem qualquer tentativa de repasse de custos que não esteja devidamente alinhada aos fundamentos atuais do mercado.

Acompanhar a movimentação internacional, entender os vetores que efetivamente impactam os preços e contar com análises de mercado confiáveis — como as oferecidas pela Raion Consultoria — são estratégias essenciais para se proteger de reajustes oportunistas e garantir uma gestão de custos mais eficiente, transparente e alinhada à realidade.

Matéria de autoria da equipe de comunicação da Raion Consultoria.