Powell evita sinalizar quando Fed poderá cortar juros e diz que maioria do comitê mira fim do ano

O presidente do banco central americano, Jerome Powell, afirmou em depoimento no Congresso americano que o Federal Reserve (Fed) segue em “modo de espera”, à medida que aguarda os efeitos das tarifas atingirem a economia para decidir sobre futuros ajustes na política monetária. No entanto, diante da recente divergência aberta publicamente por importantes membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) nos últimos dias, que indicaram que o Fed pode cortar os juros já em julho, o mercado buscou sinais de uma maior abertura do “chairman” à possibilidade de o afrouxamento ocorrer mais cedo que o previsto.

“Por enquanto, estamos bem-posicionados para aguardar para saber mais sobre o provável curso da economia antes de considerar ajustes em nossa postura política”, disse Powell em depoimento no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA.

Assim como fez na semana passada, o dirigente reconheceu que, caso a incerteza sobre as tarifas não estivesse pesando sobre as pesquisas de inflação, o país poderia estar caminhando em direção a taxas de juros mais baixas. “A razão para não estarmos [com juro neutro] é a expectativa de um aumento significativo na inflação neste ano”, afirmou. “O que vai acontecer com os juros depende do caminho da economia e isso é altamente incerto”, completou o dirigente.

Segundo o presidente do Fed, caso os dados de inflação não venham tão altos quanto o esperado ou o mercado de trabalho mostre enfraquecimento, há espaço para corte os juros antes do que o esperado. A fala sobre o mercado de trabalho, em especial, acendeu um alerta entre os participantes do mercado, à medida que os dados semanais de seguro-desemprego no país vêm mostrando deterioração há algumas semanas.

Os sinais mais suaves do presidente do Fed ocorrem na esteira de declarações relevantes de outros membros da autoridade monetária. Nos últimos dias, falas da vice-presidente de supervisão Michelle Bowman, e do diretor Christopher Waller indicaram uma maior disposição de cortar os juros já na reunião de julho do Fed.

Assim, ontem, o mercado passou a embutir nos preços uma maior probabilidade de o afrouxamento monetário ocorrer mais cedo. Os juros dos Treasuries de 2 anos, que são mais sensíveis às perspectivas de política monetária, fecharam em queda, de 3,870% do ajuste anterior para 3,831%.

Sobre a trajetória dos juros, Powell lembrou que uma maioria significativa do Fomc julga apropriado diminuir os juros no fim do ano. De acordo com o gráfico de pontos, divulgado na semana passada, 12 dos 19 membros do comitê esperam cortes em 2025, sendo que dois deles esperam um corte nos Fed Funds; oito esperam dois cortes; e outros dois esperam três cortes até o fim do ano. Sete membros veem as taxas estacionadas no nível atual até dezembro.

Powell também ponderou que não está descartada uma piora no cenário à frente, o que levaria o banco central dos EUA a manter os juros mais altos por mais tempo. “É questão de ser prudente e cauteloso; vamos esperar e ver mais”, disse.

Os parlamentares também questionaram Powell se o mandato duplo do Fed, de buscar a meta de inflação de 2% e o máximo nível de emprego não estaria em conflito. “Não estamos encarando isso agora e não é nossa projeção que iremos encarar esse problema”, afirmou.

Powell também precisou se pronunciar sobre as críticas que vêm recebendo do presidente dos EUA, Donald Trump, para que os juros caiam no país. “Estamos focados em entregar uma boa economia para benefício do povo americano. Todo o resto é distração”, disse. Powell também se recusou a comentar o que acha das atuais políticas do governo.

Trump fez diversos comentários críticos a Powell e, ontem pela manhã, voltou a disparar contra o presidente do Fed em sua rede social. “O atrasado demais Jerome Powell, do Fed, estará no Congresso hoje [terça] para explicar, entre outras coisas, porque ele se recusa a baixar os juros”, escreveu Trump. “A Europa teve 10 cortes, e nós tivemos zero. Sem inflação, grande economia. Nós devíamos estar com ao menos dois ou três pontos a menos [nos juros].”

Matéria publicada no Valor Econômico, no dia 24/06/2025, às 13:22 (horário de Brasília)