Tarifas voltam a ser grande tema do mercado e devem afetar ativos durante todo o mês

Após uma semana de recordes para os mercados mundiais, esta semana voltou a ser de aversão a risco para os ativos, com os investidores de olho nas cartas de Donald Trump sobre as tarifas para os mais diferentes países.

Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a discussão desta segunda retoma basicamente o “Liberation Day” do dia 2 de abril, em que Trump anunciou tarifas recíprocas de ao menos 10% para uma série de países, mas mais do que isso para vários deles e que gerou uma turbulência muito negativa nos mercados. Depois de sete dias, em 9 de abril, Trump suspendeu as tarifas anunciadas, padronizando todos a 10%, com exceção da China, abrindo canais de negociações durante 90 dias. O problema é que esse período de negociação está cada vez mais perto do fim, com as novas tarifas sendo anunciadas até 9 de julho e entrando em vigor em 1 de agosto (a princípio).

“Desta forma, o mercado começa a colocar os olhos sobre como o governo norte-americano vai conduzir estes termos a partir de então”, avalia Sung. Cabe lembrar que, nesta segunda, Trump divulgou as primeiras de uma série de cartas prometidas com novas tarifas, com taxas de 25% sobre produtos do Japão e da Coreia do Sul a partir de 1º de agosto.

Além disso,  divulgou cartas tarifárias para Malásia, Cazaquistão, África do Sul, Laos e Mianmar. A nova alíquota para três dos cinco países é menor do que as alíquotas recíprocas anunciadas em 2 de abril: Mianmar caiu de 44% para 40%, Laos de 48% para 40% e Cazaquistão de 27% para 25%. A África do Sul permaneceu em 30% e a Malásia aumentou 1 ponto percentual, para 25%. Contudo, isso não diminuiu a aversão a risco do mercado.

Sobre o Brasil especificamente, o país tem tentado negociar com os Estados Unidos, mas não houve conclusão até o momento.

“E o ponto principal que tem gerado de novo um efeito negativo sobre os mercados é a percepção novamente do impacto negativo para a economia, podendo levar a um crescimento menor dos Estados Unidos. Além disso, as tarifas mais altas vão afetar a inflação dos Estados Unidos de duas formas: a primeira é que o custo de bens importados leva em conta não só os bens que vão pro consumidor final, mas toda a cadeia produtiva. Os custos dos importadores serão maiores e isso pode ser repassado para os consumidores”, aponta Sung.

Além disso, em segundo lugar, se o produto importado for mais caro, as famílias dos EUA vão começar a consumir produtos produzidos internamente. “O problema é o excesso de demanda dada uma oferta, o que também vai aumentar os próprios preços dos Estados Unidos”, avalia.

Uma consequência natural disso é a atuação do Federal Reserve, que seguirá mantendo a cautela em relação a condução da política monetária.

“Como as tarifas estavam em 10% e agora vão ser maiores, o efeito sobre inflação poderá ser um pouco maior, o que leva a uma parcimônia do Fed. Por isso [Jerome] Powell [presidente do Federal Reserve] vem sinalizando diversas vezes que as tarifas vão começar a ser refletidas nos índices de inflação. Com isso, o atual momento é de cautela apesar de a inflação ter levado a dados mais benignos nas últimas divulgações”, aponta.

“O que vai começar a partir da divulgação de diversas cartas para os países é entender a magnitude dessas tarifas e efeitos que poderão ter sobre os mercados. Como Trump anunciou que as tarifas vão começar a ser válidas por decreto e podem entrar em vigor a partir de 1 de agosto, pode ser que ainda tenhamos um mês de negociações, entre falas e possíveis recuos de Trump. Desta forma, vamos voltar a conversar novamente sobre tarifas e isso vai afetar a percepção e aversão a risco dos mercados”, aponta.

Matéria publicada no portal InfoMoney, no dia 07/07/2025, às 16:35 (horário de Brasília)