Acelen avança em projeto de biorrefinaria de R$ 16,5 bilhões na Bahia e negocia financiamento com BNDES

A Acelen, empresa de energia criada pelo fundo Mubadala Capital, dos Emirados Árabes Unidos, vai iniciar até dezembro deste ano o processo de investimento em seu primeiro projeto de biorrefinaria no país, avaliado em um total de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 16,5 bilhões). O empreendimento, localizado em Mataripe, na Bahia, ficará próximo à refinaria adquirida da Petrobras há mais de dois anos.

De acordo com fontes do setor, o complexo de biorrefino incluirá um centro de tecnologia, denominado Acelen Agripark. A empresa está em fase final de negociação com o BNDES para um empréstimo de R$ 250 milhões. O financiamento já foi aprovado e deve ser liberado nas próximas semanas.

Oito mil perguntas

O novo projeto da Acelen surge em um momento em que o Mubadala Capital mantém conversas com a Petrobras para revender a maior parte das ações da Refinaria de Mataripe, responsável por cerca de 14% da capacidade de produção de combustíveis no Brasil.

O processo de due diligence realizado pela estatal envolveu mais de 8 mil questionamentos por parte da Petrobras. As negociações perderam velocidade após a nomeação de Magda Chambriard para a presidência da petrolífera.

Na semana passada, durante a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre, Magda afirmou que a recompra de Mataripe não era uma prioridade e que aceitaria uma doação. Apesar do cenário incerto, os acionistas da Acelen continuam a planejar os investimentos em transição energética, com ou sem a participação da Petrobras, segundo essas fontes.

Para a biorrefinaria, que atrai o interesse de outras companhias estrangeiras e de fundos nacionais, a Acelen pretende utilizar a macaúba, planta nativa do Brasil, para produzir óleo vegetal. Este será misturado ao diesel para criar o diesel verde e ao querosene de aviação (QAV) para gerar combustível sustentável de aviação (SAF, pela sigla em inglês).

Dentro desse projeto, a companhia planeja adquirir 180 mil hectares de terras degradadas entre Minas Gerais e Bahia, divididos em cinco lotes iguais. Os municípios estão sendo selecionados pela Acelen e, juntos, terão capacidade para produzir 1 bilhão de litros de biocombustível por ano.

A expectativa é que a unidade de biorrefino comece a operar em 2027. São necessários quatro anos para a macaúba dar as primeiras colheitas, por isso, a produção na unidade aumentará gradualmente, conforme a disponibilidade da matéria-prima. Nos primeiros anos, a Acelen poderá usar óleo de soja e gordura animal para o processamento dos combustíveis.

O Mubadala Capital vai usar o projeto da Acelen como um teste para avaliar a construção de outras quatro biorrefinarias no Brasil. Segundo uma fonte, a estratégia é exportar os biocombustíveis em todas as unidades. A Petrobras demonstrou interesse em se tornar sócia no projeto, e as conversas estão em andamento, paralelamente ao processo de recompra da refinaria em Mataripe.

Para a produção do SAF, a Acelen já conversa com fabricantes de aeronaves e companhias aéreas. De acordo com o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação, em discussão no Congresso, as aéreas terão que reduzir as emissões em 1% ao ano a partir de 2027.

Com parque solar

Enquanto aguarda a decisão da Petrobras, a Acelen está destinando R$ 500 milhões para a construção de um parque solar que abastecerá o consumo da refinaria. A previsão é que o projeto esteja concluído em 2026. Desde a aquisição da unidade na Bahia, o fundo árabe investiu R$ 2 bilhões em melhorias. Segundo uma das fontes, “a negociação levará em conta os investimentos já realizados na unidade.”

A decisão do Mubadala Capital de revender a refinaria para a Petrobras foi tomada após a suspensão do processo de venda de ativos da estatal, que previa a alienação de oito refinarias — mas somente três passaram à iniciativa privada. Além disso, a Acelen entrou com um processo no Cade, órgão regulador da concorrência no Brasil, questionando os preços de venda de petróleo praticados pela Petrobras.

Esta semana, a associação do setor, Refina Brasil, criticou os ofícios encaminhados pelo Ministério de Minas e Energia ao Cade e à Agência Nacional do Petróleo (ANP) sobre supostas práticas anticoncorrenciais das refinarias privadas em suas políticas de preços, argumentando que estas seguem a cotação internacional do petróleo.

“O ministério ignora os pedidos de correção das distorções regulatórias e concorrenciais, como a impossibilidade de aquisição de petróleo a preços competitivos”, afirmou a Refina Brasil.

Matéria publicada pelo BioDiesel BR no dia 19/08/2024, às 09h02 (horário de Brasília)