Acordo para trégua em Gaza está mais próxima, diz governo israelense
Autoridades israelenses afirmam que um cessar-fogo em Gaza é uma possibilidade mais realista do que em qualquer momento no último ano, sugerindo que um acordo aguardado há muito tempo para libertar reféns e aumentar a ajuda ao território sitiado pode estar próximo.
Um grupo de trabalho de Israel está na capital do Catar, Doha, nesta semana para restabelecer relações com mediadores caso ocorra um avanço nas negociações com o Hamas, disseram as autoridades, que pediram anonimato por discutirem informações sensíveis.
O otimismo foi refletido em comentários recentes de membros seniores do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O ministro da Defesa, Israel Katz, disse na segunda-feira que uma trégua está “mais próxima do que nunca”, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, afirmou às famílias dos reféns que está mais confiante do que há um mês.
“Há uma chance de chegar a um acordo e, pelo que sei, ele envolverá todos os 100 reféns”, disse o ministro da Diáspora, Amichai Chikli, à rádio do Exército na terça-feira. “Primeiro os casos humanitários e depois o restante.”
Não houve comentários oficiais do Hamas.
Um acordo para ao menos pausar a guerra entre Israel e Hamas encerraria mais de um ano de frustração, durante o qual as conversas sobre um acordo iminente surgiram intermitentemente antes de colapsarem rapidamente. As negociações estão sendo mediadas por Catar e Egito, com supervisão dos EUA, e as recentes visitas de autoridades de Washington à região podem ter ajudado a avançar o processo.
Esforços intensivos do Catar e do Egito estão em andamento “com todas as partes” para alcançar uma trégua em Gaza, afirmou na terça-feira a emissora Extranews, com sede no Cairo, que geralmente reflete o pensamento do governo, na plataforma X.
A BBC citou um oficial palestino não identificado envolvido nas negociações, dizendo que estão na fase final.
Os detalhes permanecem em grande parte sigilosos, mas dois oficiais israelenses disseram que o cessar-fogo ocorreria em etapas, começando sob o governo do atual presidente dos EUA, Joe Biden, e continuando após Donald Trump assumir o cargo em 20 de janeiro.
Adam Boehler, nomeado por Trump como enviado especial para assuntos de reféns na próxima administração, está em Israel se reunindo com Netanyahu, entre outros. Trump declarou que deseja que os reféns sejam libertados antes do início de seu novo mandato.
Na primeira fase do acordo em discussão, reféns definidos como “humanitários” — mulheres, doentes e pessoas com mais de 51 anos — seriam libertados em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel. Em seguida, haveria um cessar-fogo de seis a sete semanas durante o qual tropas israelenses se retirariam de partes de Gaza, com início de negociações para uma trégua permanente.
Centenas de caminhões de ajuda entrariam diariamente no território palestino durante esse período, trazendo alimentos, água e suprimentos de saúde extremamente necessários para uma população que, segundo a ONU e grupos de ajuda, enfrenta uma crise humanitária.
Na segunda fase, segundo os oficiais, os reféns restantes — em sua maioria homens em idade militar — seriam libertados em troca de mais prisioneiros palestinos. A terceira etapa incluiria o início da reconstrução de Gaza e o retorno dos corpos dos reféns. Aproximadamente metade dos 100 ainda em cativeiro é considerada morta.
Em rodadas anteriores de negociações, um grande obstáculo foi a insistência do Hamas de que, desde o início, Israel concordasse em retirar todas as suas tropas de Gaza. Israel recusou, dizendo que não interromperá sua campanha até que o Hamas seja destruído e não possa mais governar o território.
Embora o Hamas não tenha reconhecido publicamente uma mudança nessa posição, autoridades israelenses dizem que o grupo, apoiado pelo Irã, tornou-se mais flexível.
Outros pontos ainda precisam ser negociados, incluindo o que constitui um caso humanitário para um refém. Israel quer que todas as mulheres sejam libertadas primeiro, incluindo soldados.
Um segundo ponto de discórdia é quais verificações de segurança seriam impostas aos gazenses que retornassem ao norte do território. Um terceiro é de onde as tropas israelenses devem se retirar, e o quarto é que Israel quer manter o direito de retomar os combates em Gaza.
Qualquer um desses pontos pode impedir a concretização de um acordo.
A guerra entre Israel e Hamas começou em outubro de 2023, quando milhares de militantes do Hamas invadiram o sul de Israel a partir de Gaza, matando 1.200 pessoas e sequestrando 250. Israel respondeu com um temível ataque por ar, mar e terra, uma guerra que transformou grande parte da faixa costeira em escombros, deslocou cerca de 2 milhões de pessoas e, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas, matou 45 mil.
O Hamas é considerado um grupo terrorista pelos EUA e muitos outros governos. Israel afirma ter matado quase 20 mil militantes, mas não informa quantos civis foram mortos.
Pouco mais de um ano atrás, mais de 100 reféns foram trocados por centenas de prisioneiros palestinos e um aumento na ajuda humanitária. Mas um acordo para manter essa paz desmoronou rapidamente.
Durante o curso da guerra, outras milícias aliadas ao Irã se uniram aos ataques contra Israel em solidariedade ao Hamas, incluindo o Hezbollah no Líbano e os houthis no Iêmen. Israel retaliou, matando a liderança do Hezbollah e degradando severamente as capacidades militares do grupo. Um cessar-fogo com o Hezbollah foi acordado no final de novembro, o que, segundo os EUA, daria impulso às negociações paralisadas sobre Gaza.
O Irã já trocou fogo direto com Israel duas vezes, mas está em desvantagem, particularmente após a derrubada de um aliado-chave, o ex-presidente da Síria Bashar al-Assad. Israel lançou uma grande ofensiva na Síria logo após sua queda, buscando destruir locais de armas antes que caíssem nas mãos de grupos islâmicos hostis.
Tudo isso deixou o Hamas isolado e enfraquecido. Isso, segundo os israelenses, é o motivo pelo qual o grupo parece ter suavizado suas exigências e por que um acordo parece mais alcançável.
Matéria publicada pela Bloomberg no dia 17/12/2024, às 11h17 (horário de Brasília)