Arábia Saudita e Rússia lideram acordo para prolongar cortes na produção de petróleo

Os membros da OPEP+ concordaram em estender cortes na produção de petróleo, em alguns casos até o final de 2025, enquanto lutam para sustentar os preços em meio à fraca demanda global e ao aumento da oferta de outras partes do mundo.

Em sua última reunião semestral, que aconteceu no domingo, o cartel reconheceu que ainda não tinha espaço para mudar a posição sobre os cortes de produção iniciados em novembro de 2022, comprometendo-se a manter mais de 3 milhões de barris por dia (bpd) de petróleo fora do mercado até o final do próximo ano.

O grupo só trará de volta uma pequena proporção de sua produção reduzida este ano, após oito membros, incluindo Arábia Saudita, Rússia, Iraque e Emirados Árabes Unidos, concordarem em começar a reverter alguns cortes “voluntários” a partir de outubro.

Mesmo essa medida pode ser interrompida e revertida a qualquer momento se as condições do mercado piorarem, alertou o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro do petróleo da Arábia Saudita, em uma entrevista após o anúncio. Ele acrescentou que, embora a OPEP+, um grupo mais abrangente, que inclui Rússia e Cazaquistão, queira aumentar a produção, isso dependeria de uma melhora na economia global e de ações dos bancos centrais para começar a cortar as taxas de juros.

Com uma perspectiva incerta sobre a demanda de petróleo da China e a produção crescente de petróleo de países fora da aliança OPEP+, notadamente os EUA e o Canadá, os países membros foram além do esperado para assegurar ao mercado que continuariam a mostrar disciplina sobre a produção.

Os membros da OPEP+ “sabem que as preocupações com a demanda continuam”, disse Amrita Sen, fundadora da agência de pesquisa Energy Aspects. “Eles querem continuar a fornecer estabilidade.”

Enquanto a reunião da OPEP+ foi realizada virtualmente, oito membros principais, incluindo Rússia, Iraque e os Emirados Árabes Unidos, se reuniram em Riad para conversas presenciais antes do evento.

Sen também disse que era uma surpresa que a OPEP+ tenha adiado negociações potencialmente contenciosas sobre as futuras cotas de produção até o final do próximo ano. “Eles sabem que este não é o momento certo para ter essa conversa”, acrescentou.

O príncipe Abdulaziz sugeriu que o processo de avaliação precisa da capacidade dos membros da OPEP+ foi atrasado porque a Rússia não conseguiu compartilhar dados detalhados com as consultorias independentes contratadas para realizar o trabalho.

Na sexta-feira, o Brent, referência mundial, era negociado a US$ 80 por barril, abaixo dos mais de US$ 90 em abril, quando as tensões aumentaram no Oriente Médio.

As ações complexas anunciadas no domingo destacam o desafio que o grupo de produtores enfrenta ao tentar sustentar os preços enquanto mantém a harmonia entre os membros, alguns dos quais estão receosos para reiniciar a produção reduzida.

Os membros da OPEP+ estão implementando três conjuntos de cortes de oferta introduzidos desde novembro de 2022.

O primeiro conjunto, um corte de 2 milhões de bpd em todo o grupo, que expiraria no final do ano, foi estendido por 12 meses, prolongando as cotas de produção base dos membros por mais um ano. No entanto, o grupo isentou os Emirados Árabes Unidos, que poderão aumentar gradualmente sua produção base de 2025 em 300.000 bpd.

Um conjunto de cortes voluntários de produção por nove membros, incluindo Arábia Saudita, Rússia e Emirados Árabes Unidos, totalizando 1,66 milhão de bpd e com vencimento em dezembro, também foi estendido até o final de 2025.

Um terceiro conjunto de cortes voluntários introduzido em janeiro e que terminaria neste mês, representando 2,2 milhões de bpd, será prolongado até setembro e, em seguida, gradualmente eliminado ao longo dos 12 meses seguintes, disse o ministério da energia da Arábia Saudita em um comunicado separado. O ministério acrescentou que poderia reverter o plano se a dinâmica do mercado mudasse.

Os três conjuntos significam que os membros da OPEP+ estão atualmente produzindo quase 6 milhões de bpd a menos que sua capacidade combinada, representando cerca de 6% da oferta global.

Matéria publicada pelo Financial Times no dia 02/06/2024, às 21h34 (horário de Brasília)