Ataque aéreo de Israel mira sistemas antiaéreos e produção de mísseis do Irã
Após enviar mais de 100 caças para atacar o Irã, o governo israelense busca equilibrar suas ações: autoridades acreditam que o ataque causou danos estratégicos significativos, mas querem permitir que o Irã continue minimizando o incidente como algo que não merece resposta.
Houve ordens para que os funcionários israelenses mantivessem sigilo sobre os detalhes. No entanto, em uma cerimônia de luto pelas perdas da invasão do Hamas em 7 de outubro de 2023, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu exaltou a missão no Irã por “prejudicar gravemente suas capacidades de defesa e sua habilidade de produzir mísseis que seriam lançados contra nós”.
O ataque, disse ele, “foi preciso e poderoso” e “alcançou todos os seus objetivos”.
Um comunicado sobre a ligação entre o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, e seu homólogo norte-americano, Lloyd Austin, relatou que eles discutiram “avaliações iniciais sobre o sucesso dos ataques contra instalações de fabricação de mísseis, baterias de mísseis terra-ar e capacidades aéreas iranianas”, lançando mais luz oficial sobre os alvos.
Autoridades israelenses, que falaram à Bloomberg sob anonimato devido à sensibilidade do tema, forneceram mais detalhes: alguns dos alvos eram sistemas antiaéreos, incluindo baterias russas S-300 e alguns depósitos e locais de lançamento de mísseis.
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Analistas dizem que a operação de sábado pode preparar o cenário para outro ataque, possivelmente após as eleições dos EUA, que poderia ter como alvo o programa nuclear do Irã ou sua infraestrutura de petróleo.
“O fato de o exército ter conseguido derrubar os sistemas de radar antiaéreo do Irã representa uma mudança estratégica. Ao fazer isso, Israel abriu caminho para futuros ataques. Isso significa que o programa nuclear do Irã e sua infraestrutura energética estão mais vulneráveis a uma decisão futura de Israel ou dos Estados Unidos para atacá-los,” disse Meir Javedanfar, professor de estudos iranianos na Universidade Reichman, em Herzliya.
Ao mesmo tempo, o diretor da CIA, William Burns, está no Catar com o chefe do Mossad, David Barnea, liderando a delegação israelense em novas discussões sobre um cessar-fogo com o Hamas em Gaza. O presidente do Egito, Abdel-Fattah El-Sisi, propôs no domingo um cessar-fogo de dois dias que incluiria a liberação de quatro reféns israelenses mantidos em Gaza, em parte para permitir a entrega de ajuda humanitária aos palestinos, segundo a Associated Press.
Um ex-funcionário dos serviços de inteligência de Israel disse ao Bloomberg que estima-se que o Irã tenha entre 20 e 30 baterias S-300. Mesmo que apenas algumas tenham sido neutralizadas — relatórios de mídia apontaram entre quatro e oito baterias —, foi uma mensagem clara de que mais poderiam ser danificadas em ataques futuros. O sistema S-300 será difícil de repor, dado que a Rússia precisa priorizar suas próprias defesas na guerra com a Ucrânia.
Eyal Pinko, ex-oficial de inteligência da Marinha e especialista em mísseis, disse que a China tem sua própria versão do S-300 e provavelmente a fornecerá ao Irã em breve.
Javedanfar disse que, mesmo que a Rússia tenha a capacidade de substituir esses sistemas, talvez com baterias S-400 mais avançadas, terá de considerar as repercussões, como um aumento no envio de armas dos EUA e de Israel para a Ucrânia.
Isso reforça a ideia de que o ataque de Israel no sábado, apesar de não exibir todas as suas capacidades, pode ter implicações de longo alcance.
Isso inclui o impacto na capacidade de produção de mísseis balísticos do Irã, incluindo uma fábrica para mistura dos elementos de combustível sólido para motores de mísseis. Segundo um ex-funcionário de inteligência, essa fábrica representa um grande gargalo na produção de mísseis. As máquinas podem ser substituídas, principalmente com ajuda da China, mas isso exigiria tempo, já que o equipamento não está pronto para uso imediato.
“Não está claro qual percentual das capacidades de produção de mísseis do Irã foi afetado,” afirmou Javedanfar. “Mas o fato de terem sido atingidos envia uma mensagem muito importante ao Irã sobre como o centro nervoso de suas instalações de produção militar está ao alcance de Israel. Se tivessem sido paralisadas por um ou dois anos, isso claramente diz: podemos te atingir.”
Além dos danos materiais, analistas dizem que a escala da operação foi um forte sinal por si só.
A operação contou com uma combinação de mais de 100 aviões que conseguiram atacar a grande distância da fronteira israelense e retornar em segurança, uma inteligência clara obtida por Israel e seus aliados, além de estreita cooperação entre Israel e os EUA, evidenciada na capacidade de Israel de sobrevoar o Iraque, entre outros feitos.
Isso também influenciará a decisão do Irã sobre como responder, disse o ex-funcionário de inteligência.
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, declarou no domingo que o ataque de Israel não deve ser exagerado nem subestimado.
“O erro de planejamento do regime sionista deve ser interrompido,” disse Khamenei em Teerã, sem entrar em detalhes. Ele acrescentou que a força, determinação e iniciativa do Irã “devem ser deixadas claras para eles.”
Matéria publicada pela Bloomberg no dia 27/10/2024, às 19h11 (horário de Brasília)