Banco Central mantém Selic em 10,50% pelo segundo mês consecutivo
O Banco Central decidiu nesta 4ª feira (31.jul.2024) manter a Selic em 10,50% ao ano. É a 2ª reunião seguida em que a taxa básica de juros permanece inalterada. A manutenção se deu por unanimidade dos diretores da autoridade monetária.
O Copom (Comitê de Política Monetária) tomou novamente uma decisão técnica. As incertezas da política monetária externa e uma maior cautela em relação à inflação do Brasil motivaram o parecer dos diretores do Banco Central.
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas que serão cobradas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações.
Leia abaixo o histórico do indicador:
No âmbito interno, o cenário fiscal foi um dos fatores determinantes para a manutenção da Selic. O governo federal aumentou as projeções de rombo para o fim do ano, o que levou a necessidade de fazer contenções no Orçamento de 2024. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou no começo de julho restrições nas contas públicas que somam R$ 15,0 bilhões.
“O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz o comunicado do colegiado.
Entenda o que são as políticas:
- monetária – controle da oferta de dinheiro e taxas de juros pelo Banco Central para regular a atividade econômica;
- fiscal – decisões do governo sobre gastos e arrecadação com impostos para influenciar a economia.
Quanto ao exterior, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) anunciou nesta 4ª feira (31.jul) a manutenção dos juros norte-americanos no intervalo de 5,25% a 5,50%. Com a decisão, a taxa de juros permanece no mesmo nível desde julho de 2023.
“O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países”, afirma o texto.
O patamar atual da Selic veio em harmonia com as projeções do mercado financeiro. Como mostrou o Poder360, tinham a manutenção em 10,50% ao ano como um consenso.
O indicador permanece no patamar mais baixo desde dezembro de 2021, quando era de 9,25%. Está em 2 dígitos (maior que 10,0%) há 30 meses.
O Banco Central cortou a taxa durante 7 reuniões. Foram 6 quedas de 0,50 p.p. (ponto percentual) e uma de 0,25 p.p. O ciclo de reduções foi interrompido na reunião de junho, quando o órgão manteve a taxa inalterada pela 1ª vez em 2024.
AS CRÍTICAS DE LULA
O período que sucedeu à reunião de junho do Copom foi marcado por uma série de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central. Muitas de suas falas diziam respeito a quem substituirá Roberto Campos Neto na presidência do órgão em 2025.
“A taxa de juros de 10,50% [ao ano] é irreal para uma inflação de 4%. Isso vai poder melhorar quando eu puder indicar o presidente [do Banco Central]”, declarou o petista em entrevista à rádio O Tempo, de Minas Gerais, em 28 de junho.
As declarações controversas mexeram com o mercado. O dólar subiu, assim como o risco-país. Criou-se a preocupação de que o chefe do Executivo indique um nome mais flexível com a inflação alta para assumir a instituição em 2025.
O petista amenizou o tom em relação a Campos Neto ao longo de julho. O ministro Haddad se reuniu com o presidente, o que levou à adoção do tom mais ameno sobre as pautas econômicas.
Apesar disso, muitos políticos e autoridades próximas ao petista continuaram a bombardear a autoridade monetária. Leia exemplos abaixo:
- Gleisi Hoffmann (PT-PR) – “Não há evidência maior de que ele atua politicamente, a serviço de quem o colocou naquela posição”, disse a presidente nacional do PT sobre Campos Neto;
- Luiz Marinho – “Não há razão para não retomar de novo a redução dos juros. Então se espera que os colegas do Banco Central tenham um olhar do que está acontecendo na economia”, declarou o ministro do Trabalho em 30 de julho;
- Zeca Dirceu (PT-PR) – “O BC age desalinhado à agenda desenvolvimentista do governo, na contramão dos interesses nacionais, prejudicando a sociedade como um todo, em benefício de especuladores e rentistas”, disse o deputado federal em um artigo de opinião publicado no Poder360.
JUROS & INFLAÇÃO
A razão da decisão pela manutenção da taxa elevada é controlar a inflação. O crédito mais caro desacelera o consumo e a produção. Como consequência, os preços tendem a não aumentar de forma tão rápida.
As expectativas para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) estão desancoradas. O Boletim Focus publicado em 29 de julho mostra que o mercado espera que o indicador termine o ano em 4,10% –mais próximo do teto da meta.
As projeções para 2025 também aumentaram. Leia abaixo:
A meta de inflação tem centro de 3%. O objetivo do Banco Central é deixar o índice de preços o mais próximo desse patamar. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual, ou seja, pode chegar até 4,5%.
A prévia da inflação desacelerou para 0,30% em julho, mas veio acima da previsão do mercado (0,20%). Em julho de 2023, a prévia havia sinalizado deflação (queda nos preços) de 0,07%.
O indicador é medido pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15).
Os índices de inflação são usados para medir a variação dos preços. Ou seja, quanto vale o dinheiro de forma real. Em resumo, um produto que custava R$ 100 passa a custar R$ 110 se a inflação ampla variou em 10% para cima.
PLACAR UNÂNIME
Todos diretores do BC (Banco Central), inclusive os 4 indicados pelo atual governo, seguiram Roberto Campos Neto e optaram por manter a taxa básica de juros em 10,50%.
O encontro de maio teve um racha no colegiado. Em junho, os diretores mostraram união e fizeram uma escolha técnica –que se repetiu nesta 4ª feira (31.jul).
Um comitê dividido não é bom para este período de transição na presidência do Banco Central. Uma divergência aumentaria o receio entre os agentes financeiros de que as saídas de Roberto Campos Neto e de mais 2 diretores em dezembro de 2024 possam tornar a autoridade monetária mais tolerante com a inflação mais alta.
Os indicados do atual presidente são:
- Gabriel Galípolo (Política Monetária) – assumiu o cargo em 12 de julho de 2023;
- Ailton Aquino (Fiscalização) – assumiu o cargo em 12 de julho de 2023;
- Rodrigo Teixeira (Administração) – assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2024;
- Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) – assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2024.
O COPOM
A reunião do Copom é a 5ª com 4 nomes indicados pelo presidente Lula.
O Banco Central é uma instituição com autonomia operacional. Os 8 diretores e o presidente têm mandatos de 4 anos –que não coincidem com o período eleitoral do Poder Executivo.
Leia no infográfico abaixo quem são os diretores e a duração de seus mandatos:
POLÍTICA MONETÁRIA
A taxa Selic recuou 3,25 pontos percentuais desde o início do ciclo de cortes. Relembre as decisões BC nas últimas 8 reuniões:
- agosto de 2023 – corte de 13,75% para 13,25%;
- setembro de 2023 – corte de 13,25% para 12,75%;
- novembro de 2023 – corte de 12,75% para 12,25%;
- dezembro de 2023 – corte de 12,25% para 11,75%;
- janeiro de 2024 – corte de 11,75% para 11,25%;
- março de 2024 – corte de 11,25% para 10,75%;
- maio de 2024 – corte de 10,75% para 10,50%;
- junho de 2024 – manutenção em 10,50%;
- julho de 2024 – manutenção em 10,50%.
Matéria publicada pelo Poder 360 no dia 31/07/2024, às 18h37 (horário de Brasília)