Biden cogita endurecer sanções contra petróleo da Rússia antes de Trump assumir

A administração Biden está considerando novas e mais severas sanções contra o lucrativo comércio de petróleo da Rússia, buscando apertar o cerco à máquina de guerra do Kremlin poucas semanas antes de Donald Trump retornar à Casa Branca.

Os detalhes das possíveis novas medidas ainda estavam sendo definidos, mas a equipe do presidente Joe Biden estava considerando restrições que poderiam atingir algumas exportações de petróleo russas, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que pediram para não serem identificadas ao discutir deliberações privadas.

Essa medida era algo que Biden havia resistido por muito tempo devido ao medo de que pudesse desencadear um aumento nos custos de energia, especialmente no período que antecedeu a eleição presidencial do mês passado. Mas, com os preços do petróleo caindo em meio a previsões de um excedente global em 2025 e o aumento dos temores de que Trump possa buscar forçar a Ucrânia a um acordo rápido com a Rússia para encerrar a guerra de quase três anos, a administração Biden agora está aberta a ações mais agressivas, disseram as fontes.

As deliberações destacam como a equipe de Biden está mais disposta a correr riscos ao enfrentar a Rússia enquanto se prepara para partir, especialmente com os esforços anteriores para sufocar as receitas de energia do Kremlin tendo resultados mistos e os preços médios da gasolina nos EUA atingindo seu nível mais baixo desde meados de 2021. Nas semanas finais, a administração também tomou medidas para intensificar o apoio militar e financeiro à Ucrânia em meio a dúvidas sobre o compromisso de Trump com o apoio contínuo dos EUA.

Os EUA já proíbem importações de petróleo russo, mas novas restrições às exportações de um dos maiores produtores do mundo — que poderiam envolver a identificação de compradores estrangeiros de seu petróleo — abalariam mais de dois anos de política estabelecida após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022.

A administração também estava avaliando novas sanções voltadas para a frota de petroleiros que a Rússia usa para transportar seu petróleo, disseram as fontes. Os novos limites à chamada frota fantasma poderiam ser anunciados nas próximas semanas, segundo as fontes.

A União Europeia está planejando medidas semelhantes contra a frota fantasma da Rússia antes do final do ano. O bloco também deve direcionar sanções a indivíduos envolvidos no comércio.

Porta-vozes do Conselho de Segurança Nacional e do Departamento do Tesouro dos EUA se recusaram a comentar na terça-feira.

“É claro que a administração Biden, ao sair, tentará deixar um ‘legado difícil’ nas relações EUA-Rússia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres na quarta-feira, em resposta a uma pergunta sobre a perspectiva de sanções mais duras ao petróleo, segundo a agência de notícias Interfax.

Os preços do petróleo mal reagiram à notícia, destacando o fato de que Trump — que assume o cargo em 20 de janeiro — pode querer evitar catalisadores de inflação da mesma forma que Biden fez.

Desde que a invasão da Ucrânia começou, Moscou conseguiu, em grande parte, manter seu petróleo fluindo — embora para clientes na Ásia, em vez da Europa, onde ele ia principalmente antes do ataque.

Durante a maior parte deste ano, os preços do petróleo russo também se mantiveram acima de um limite imposto pelo Grupo dos Sete, que permitia serviços ocidentais apenas para cargas compradas a US$ 60 por barril ou menos. Isso ocorre em parte porque a Rússia recorreu a petroleiros da frota fantasma, frequentemente operando com seguradoras ou proprietários desconhecidos.

O limite de preço tentou simultaneamente restringir o fluxo de receitas do petróleo, mantendo os suprimentos — dois objetivos que entram em conflito um com o outro.

Um modelo para sanções mais amplas dos EUA poderia ser a imposição de restrições semelhantes às aplicadas ao petróleo iraniano. Nesse caso, compradores do petróleo enfrentam punições dos EUA. Essa ação seria cheia de riscos, dado que países poderosos, como Índia e China, são grandes consumidores de petróleo russo.

Mais imediatamente, tais limites poderiam elevar os preços do petróleo, causando tensões econômicas globais. Os futuros do petróleo têm se mantido em um intervalo restrito desde meados de outubro, com o Brent, referência internacional, sendo negociado abaixo de US$ 75 por barril, em comparação com mais de US$ 120 nos meses após a invasão da Rússia.

Isso também inflamaria tensões com adversários e parceiros, cujo apoio os EUA desejam para limitar as exportações de bens sensíveis, como chips e outras tecnologias que alimentam a máquina de guerra da Rússia.

Embora as medidas visassem capitalizar um mercado de petróleo mais fraco, elas também buscariam aumentar a pressão sobre a Rússia antes de Trump assumir o cargo. O presidente eleito tem pressionado por negociações para encerrar a guerra na Ucrânia, e autoridades atuais dizem que querem dar ao governo do presidente Volodymyr Zelenskiy o máximo de vantagem possível nas negociações.

Com isso em mente, apertar ainda mais as finanças do presidente Vladimir Putin poderia fortalecer a posição de negociação da Ucrânia. Existe a possibilidade de Trump desfazer as medidas se sentir que elas inflaram os preços do petróleo, mas isso acarretaria o custo político potencial de parecer fraco ou oferecer concessões à Rússia muito cedo.

A Rússia desafiou previsões de colapso econômico após os EUA e seus aliados imporem sanções sem precedentes pela invasão da Ucrânia. Após uma queda inicial, a economia se recuperou fortemente em meio a gastos estatais maciços em defesa e medidas para proteger empresas domésticas das sanções. A economia pode crescer 3,5% em 2024, segundo uma pesquisa de 24 economistas da Bloomberg News em novembro.

Ainda assim, a Rússia enfrenta desafios crescentes, com o rublo em queda e o banco central aumentando sua taxa básica de juros para um recorde de 21% em outubro para tentar conter a inflação, que está mais do que o dobro da meta de 4%. O banco alertou sobre os riscos de estagflação, com o crescimento desacelerando em meio à escassez de mão de obra enquanto a inflação permanece alta.

A última medida seguiria as restrições que os EUA implementaram no mês passado ao Gazprombank, a última grande instituição financeira russa que havia sido isenta de penalidades. A administração Biden anteriormente havia decidido não impor sanções ao banco, que as nações europeias usam para pagar pelo gás que ainda compram da Rússia, por medo de causar turbulência nos mercados globais de commodities.

Já a Hungria, assim como outros países que dependem de importações de gás russo, alertaram que a decisão dos EUA representa um risco potencial para a segurança energética. A Turquia também buscou uma isenção de sanções.

Matéria publicada pela Bloomberg no dia 11/12/2024, às 07h44 (horário de Brasília)