Como a instabilidade no Oriente Médio afeta diretamente os preços do barril de petróleo?

O Oriente Médio é uma das regiões mais estratégicas e voláteis do mundo, e quando se trata do mercado de petróleo global, a insegurança da região surge como um dos grandes problemas para o fornecimento mundial de combustíveis. Com mais da metade das reservas comprovadas de petróleo do planeta e grandes players globais, como Arábia Saudita, Irã e Iraque, qualquer desestabilização na área reflete diretamente nos preços dos produtos.

Por que isso acontece? O petróleo é uma commodity essencial para a economia mundial, e o Oriente Médio, por sua vez, é o maior fornecedor global. Quando há um conflito na região, há um temor imediato de interrupção no fornecimento, o que cria uma corrida especulativa nos mercados, elevando os preços do barril de petróleo. Isso, claro, reverbera diretamente no preço dos combustíveis ao consumidor final, seja nas bombas de abastecimento de combustíveis ou nas tarifas aéreas.

Conflitos que mudaram o preço do barril

A história recente nos oferece diversos exemplos de como conflitos armados no Oriente Médio têm o poder de afetar o mercado de combustíveis globalmente. Um dos episódios mais marcantes foi a Guerra do Golfo (1990-1991), quando o Iraque invadiu o Kuwait. O ataque não só paralisou a produção de petróleo do Kuwait, como também criou um ambiente de pânico no mercado internacional. O preço do petróleo disparou, saindo de cerca de US$ 17 para mais de US$ 40 por barril em poucos meses. A rápida escalada militar e o temor de que o conflito se expandisse para outros países produtores colocaram em xeque o fornecimento global.

Outro exemplo claro foi durante a Primavera Árabe (2010-2012). Revoltas populares atingiram países-chave, como a Líbia, que foi arrastada para uma guerra civil. A produção de petróleo do país caiu drasticamente, resultando em uma diminuição significativa na oferta global e elevando o preço do barril acima de US$ 100. A volatilidade política na região gerou incertezas econômicas, afetando o mercado de combustíveis de forma global.

O impacto mais recente: a guerra entre Hamas e Israel

Agora, mais recentemente, em 2023, um novo conflito emergiu com a escalada de violência entre Israel e o Hamas, após o ataque coordenado pelo grupo militante contra território israelense. Apesar de Israel não ser um grande produtor de petróleo, a tensão no Oriente Médio afeta a segurança energética da região como um todo. Muitos países vizinhos de Israel, como Arábia Saudita, Irã, Iraque e Emirados Árabes Unidos, possuem grandes reservas de petróleo e desempenham papéis fundamentais no fornecimento global de energia.

O cenário atual: 2024

Em outubro de 2024, o cenário no Oriente Médio é altamente tenso e volátil. O conflito entre Israel e o Hamas já escalou para além das fronteiras de Gaza, envolvendo diretamente outros atores regionais de peso. O Irã, tradicional aliado do Hamas e do Hezbollah, já trocou ataques com Israel. As Forças de Defesa de Israel (IDF) acusaram o Irã de fornecer armas e suporte logístico ao Hamas, e as tensões entre os dois países se intensificaram nas últimas semanas.

Além disso, o Hezbollah, grupo militante baseado no Líbano, também apoiado pelo Irã, iniciou uma série de ataques contra Israel ao longo da fronteira norte, aumentando os temores de uma guerra em múltiplas frentes. Israel já respondeu com bombardeios no sul do Líbano, enquanto o Hezbollah ameaça intensificar as ações. A situação no Líbano é preocupante, pois o país enfrenta uma grave crise econômica, e um conflito aberto com Israel poderia ter consequências devastadoras para a região.

A participação do Hezbollah e o envolvimento direto ou indireto do Irã complicam ainda mais o cenário, e o risco de uma escalada maior é real. Se o Irã for arrastado para uma guerra aberta com Israel, ou se o Hezbollah intensificar suas operações, o conflito pode se espalhar rapidamente por toda a região, afetando diretamente a produção e transporte de petróleo.

A fragilidade nas negociações de paz, o histórico de tensões entre Irã e Arábia Saudita, e a falta de estabilidade política em países como Síria e Iraque reforçam a percepção de risco nos mercados globais de energia. Um aumento nas hostilidades, especialmente envolvendo atores-chave no setor de petróleo, poderia facilmente levar a interrupções nas exportações, bloqueio de rotas marítimas e até mesmo ataques diretos a infraestruturas de petróleo e gás.

Impactos da crise no Oriente Médio no mercado cambial

Além dos efeitos diretos no preço do petróleo e dos seus derivados, uma escalada dos conflitos no Oriente Médio tende a aumentar a aversão ao risco, afetando diretamente a paridade cambial entre o real e o dólar americano. Em momentos de incerteza global, investidores adotam uma postura mais conservadora, preferindo ativos considerados mais seguros, como o dólar, o ouro e títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Em consequência, há motivação para a fuga de capitais dos mercados emergentes, incluindo o Brasil, à medida que os investidores se desfazem de ativos de maior risco. Esse movimento de saída de recursos pressiona a desvalorização do real, uma vez que a demanda por dólares aumenta, elevando a cotação da moeda norte-americana.

A propagação do sentimento de aversão ao risco afeta a confiança dos investidores na estabilidade econômica dos países emergentes, que tendem a sofrer mais em períodos de instabilidade internacional. No caso do Brasil, essa percepção é ainda mais sensível, uma vez que o país já enfrenta desafios internos, como o risco fiscal.

Diante disso, a incerteza global amplificada pelos conflitos no Oriente Médio potencializa a desvalorização do real, já que os investidores buscam reduzir sua exposição a economias consideradas vulneráveis em cenários de maior volatilidade, migrando então, seus investimentos para ativos mais seguros.

Projeção do impacto no preço do barril

Com o risco de escalada, os mercados de petróleo continuam reagindo freneticamente. O preço do barril de petróleo Brent, referência global negociada na bolsa de Londres, que já subiu mais de 10% desde o ataque iraniano a Israel, em 01 de outubro, poderia ver suas cotações dispararem em caso de intensificação dos combates envolvendo o Irã e seus aliados na região. O Estreito de Ormuz, via marítima que separa o Irã dos Emirados Árabes Unidos e Omã e, por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial, caso viesse a ser a ser bloqueado por forças persas, ou se instalações petrolíferas na Arábia Saudita se tornassem alvos de ataques, o preço do petróleo poderia seguir firme em direção à casa dos três dígitos, sem promessa de parada nesta caminhada. A interrupção do fornecimento de petróleo viria a causar um efeito em cadeia, elevando os preços dos seus derivados, com o diesel, a gasolina, o querosene, encarecendo o transporte e os custos industriais, trazendo impactos significativos na economia global.

Impacto nos preços do Diesel e da Gasolina no Brasil, em meio à escalada do conflito

A Raion Consultoria realizou projeções dos preços do diesel e da gasolina no Brasil com base em dois cenários distintos em um eventual acirramento das tensões já existentes no Oriente Médio. No primeiro cenário, a consultoria utilizou o preço do barril de petróleo atingindo 90 dólares, ou seja, 10 dólares acima dos 80 dólares na cotação atual – e combinados a uma taxa de câmbio a R$ 5,80 para cada dólar americano. Neste cenário, os cálculos indicaram que o binômio – barril em alta, câmbio desvalorizado – geraria uma pressão substancial sobre os preços dos combustíveis praticados no Brasil, potencializando o aumento sobre o litro do óleo diesel e da gasolina em R$ 0,65 e R$ 0,80, respectivamente.

No segundo cenário, em um tom mais elevado de escalada no conflito, foi considerado o barril negociado a 100 dólares, combinado a uma taxa de câmbio atingindo R$ 6,00 para cada dólar americano. Neste ambiente, as projeções apontaram um aumento ainda mais acentuado nos preços, com o diesel subindo R$ 1,20 e a gasolina R$ 1,40 por litro. Esse cenário reflete o impacto mais severo de um contexto de maior tensão internacional, que provoca aumentos tanto no valor do petróleo quanto na desvalorização da moeda brasileira, afetando de forma mais expressiva o custo dos combustíveis no país.

Matéria desenvolvida pela Raion Consultoria, com base nas cotações de fechamento do dia 11/10/2024