Confira como as ações da Petrobras reagem a mudanças na presidência desde 2016
A saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras marca mais um capítulo de um ciclo recorrente na gestão da Petrobras nos últimos anos, a instabilidade no cargo. Desde a chegada de Pedro Parente, em maio de 2016, logo após Michel Temer assumir a presidência da República, já foram oito presidentes na estatal, com a maior parte deles saindo por pressão política.
Esta falta de estabilidade no cargo tem sido, nos últimos anos, o principal fator de insegurança para as ações da estatal. Dos grandes tombos dos papéis da Petrobras no período, pelo menos cinco vezes, a troca repentina de presidente esteve relacionada à fuga dos investidores do papel.
O primeiro caso foi a saída de Pedro Parente, que desenvolveu a política de preços de paridade internacional (PPI), que deu mais previsibilidade à precificação da Petrobras, mas ajudou a criar uma das principais crises do governo Temer, a greve dos caminhoneiros, em 2018. A alta nos preços do diesel, e a consequente redução nos ganhos com os fretes, criaram um ambiente que levou à saída do executivo da companhia, e ao início da revisão do modelo de precificação.
A gestão de Parente, inclusive, é responsável pela maior valorização da Petrobras no período. A companhia encerrou o período com ganho de valor de mercado de mais de 90%, chegando a triplicar de tamanho pouco antes da crise dos caminhoneiros.
Em 2021, de novo sobre pressão dos caminhoneiros após um reajuste do diesel, foi a vez de Jair Bolsonaro anunciar a troca de Roberto Castello Branco por Joaquim Silva e Luna. Novamente, a companhia voltou a sentir o impacto nas ações.
Em 2022, a companhia teve três presidentes no primeiro semestre, com o sucessor de Silva e Luna, José Mauro Coelho, durando dois meses no cargo e sendo sucedido por Caio Paes de Andrade. As duas trocas, novamente, levaram a tombos nas ações.
De novo, as trocas foram afetadas pela política de preços de combustíveis. A guerra na Ucrânia elevou globalmente as cotações do petróleo e do gás, com o lucro recorde da Petrobras, enquanto os preços do diesel e da gasolina não deixaram de ser reajustados, causando a indignação pública de Bolsonaro.
Agora, já com Lula, a instabilidade veio com a saída de Jean Paul Prates. A política de preços de combustíveis já não é mais um fator – ainda não ocorreram reajustes dos preços de combustíveis em 2024 –, mas o destino de mais um lucro robusto da companhia e a animosidade com o ministro de Minas e Energia levaram a uma instabilidade de quase dois meses e a saída de Jean Paul Prates, com a companhia perdendo R$ 35 bilhões no pregão seguinte ao anúncio.
Ainda assim, ao menos em valor de mercado, a Petrobras passa pelo seu melhor momento. Dos R$ 120 bilhões em valor de mercado em 2016, após a forte desvalorização com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, hoje a petroleira ainda é avaliada em mais de R$ 500 bilhões, graças a dois anos consecutivos de forte remuneração aos acionistas.
E é nessa questão que os analistas tem mais se fiado, se a chegada de Magda Chambriard irá mudar essa perspectiva de dividendos robustos e qual será o rumo (e o tamanho) dos investimentos da Petrobras daqui para frente. E nesse cabo de guerra entre o que desejam os investidores de um lado e como a companhia irá atender os interesses do governo do outro – seja na política de combustíveis, ou como apoio nos investimentos governamentais – que a Petrobras cresce na bolsa, mas com muitos tropeços.
Matéria publicada pelo Valor Econômico no dia 21/05/2024, às 06h01 (horário de Brasília)