Distribuidoras de combustíveis apuram alta em volumes comercializados após Carbono Oculto

As três distribuidoras de combustíveis de empresas listadas na B3 relataram melhora do ambiente concorrencial no mês de setembro, após a Operação Carbono Oculto, realizada em agosto pela Receita Federal e pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), com apoio da Polícia Federal. A iniciativa, que mirou 18 distribuidoras com cerca de 4% do mercado, já mostrou diferença em volumes comercializados pelos postos BR, da Vibra; Ipiranga, da Ultrapar; e Shell, da Raízen. A expectativa é de que o quarto trimestre dê continuidade a um movimento de alta de volumes para essas companhias, conforme o que era comercializado de forma irregular passe para essas empresas.

Ao avaliar o ganho de volume no terceiro trimestre, o desempenho narrado pelas distribuidoras não fica tão claro. Na Vibra, a distribuição de combustíveis apresentou queda de 1,4% no terceiro trimestre frente ao mesmo período de 2024. Na Ipiranga, houve ganho de 1%, enquanto na Raízen a distribuição cresceu 6,5%. O que as administrações das companhias deixam claro é que a tendência dos volumes mudou desde setembro e deve se manter daqui para frente.

Em conversas com investidores nesta segunda-feira, 17, a Raízen sinalizou que projeta um cenário mais favorável para volumes no segmento Mobilidade Brasil a partir do avanço das investigações sobre irregularidades no mercado de combustíveis, que ganharam força com a Carbono Oculto. Segundo o CEO Nelson Gomes, a normalização competitiva deve devolver parte da demanda que havia migrado para os irregulares nos últimos anos.

“A Carbono Oculto devolveu uma dinâmica mais séria e mais justa para o mercado de combustíveis brasileiro”, afirmou. Ele destacou que os volumes tomados por práticas irregulares tendem a voltar ao longo dos próximos meses. “Estamos bastante construtivos daqui para frente, no sentido de começar a recuperar parte desse volume que foi para o mercado irregular ao longo desses anos”, disse o executivo.

Ambiente tem nítidas melhoras

O CEO da Vibra, Ernesto Pousada, por sua vez, disse na última semana que o ambiente regulatório tem nítidas melhoras no setor e que a empresa deve capturar as oportunidades que surgem com essa evolução. “Estamos vendo um mercado forte em volume no último trimestre. Esperamos um quarto trimestre com volumes bons comparados com os números de outros quartos trimestres. Esperamos também melhoria de margem em relação ao terceiro trimestre”, afirmou o executivo.

Para ele, com mudanças na regulamentação dos Cbios (créditos de descarbonização do RenovaBio, programa que foi endurecido nesse ano), monofasia do etanol e operação Carbono Oculto, o Brasil atingiu um ponto sem retorno do ponto de vista da regulamentação. “O País se posicionou de maneira diferenciada contra irregularidades que aconteciam nesse setor”, disse. Monofasia é a concentração da cobrança de impostos em uma única etapa da cadeia produtiva, geralmente na usina.

No mesmo sentido, o CEO da Ipiranga, subsidiária da Ultrapar, Leonardo Linden, disse que a Operação Carbono Oculto tem sido um movimento muito positivo para o setor. Ele pondera, no entanto, que a questão ainda não se encerrou: “Investigações precisam seguir”, disse. Para ele, projetos de lei como os do Devedor Contumaz e da Monofasia da Nafta precisam avançar no Congresso, para que o ambiente concorrencial siga avançando. “O cenário é positivo, mas não encerra a conta”, disse.

Ele afirma que desde a segunda quinzena de agosto, quando foi deflagrada a Carbono Oculto, a empresa tem visto uma reação rápida de volume. “Volume tem reagido rapidamente, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo, mercados em que a Carbono Oculto atuou. As margens estão em recuperação natural”, disse.
Com a palavra, os analistas

A Ativa avaliou que tanto a sazonalidade como efeitos da Carbono Oculto podem ter apoiado os resultados da Ultrapar nesse último trimestre. Enquanto a XP considerou encorajadoras as sinalizações para o quarto trimestre da Vibra, com destaque para os efeitos da Carbono Oculto, além do avanço do projeto de lei do Devedor Contumaz e da extensão de leis de responsabilidade tributária solidária a São Paulo, Bahia e Minas Gerais, que também fortalecem as grandes distribuidoras no ambiente concorrencial.

Matéria publicada no portal da Fecombustíveis, no dia 19/11/2025, às 06:00 (horário de Brasília)