Dólar pode cair mais? Saiba se o patamar de R$ 5,70 veio para ficar
O dólar, que iniciou o ano cotado acima de R$ 6,15, caiu ao patamar de R$ 5,70 nos últimos pregões, o menor nível desde novembro de 2024. O movimento acontece em meio à queda da aprovação do governo Lula e do que foi visto como um recuo do governo de Donald Trump na implementação de tarifas comerciais recíprocas pelos Estados Unidos.
Mas até onde vai essa perda de valor? Vale a pena aproveitar para incrementar a diversificação em dólar, ou o real pode ganhar mais valor nas próximas semanas?
Estrategistas de grandes bancos e corretoras consideram que a tendência de queda deve se manter – alguns avaliam que a moeda brasileira ainda está valendo menos do que deveria. Ao mesmo tempo, apontam que há volatilidade à frente.
Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, se o cenário atual se mantiver sem mudanças bruscas no Brasil e no mundo, há espaço para a moeda americana gradativamente continuar em queda e se acomodar entre R$ 5,30 e R$ 5,50.
“Tem um espacinho ainda para desacelerar. O que mudaria esse processo é se aparecesse alguma notícia muito grave internamente ou se o Trump voltasse a subir o tom sobre as questões comerciais”, apontou.
Laatus diz ainda que o dólar vem desacelerando do início do ano para cá pelos juros cada vez mais altos previstos para 2025, que elevam a atratividade do Brasil, e pelo fato de Trump não ter detalhado como pretende implementar tarifas recíprocas em relação a outros países, no que foi considerado uma espécie de blefe pelo mercado na semana passada.
“O DXY [índice que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de moedas] vem perdendo força, e não acelerando, como se imaginava”, destaca ele, que lembra que os investidores, contrários à política econômica do governo Lula, se animaram também com a perda de popularidade do presidente revelada em pesquisa Datafolha.
Vinicius Alves, macroestrategista-chefe da corretora Tullett Prebon Brasil, admite que a tendência é de queda, mas acredita que não há muitos fundamentos na mesa para um derretimento adicional do dólar.
“O fluxo cambial não está bom. Existe uma perspectiva de safra agrícola grande, mas pela via financeira o início do ano foi ruim”, disse. Na avaliação de Alves, a melhora recente foi sustentada pela estratégia de atribuir um excesso de prêmio de risco na moeda. “Mas contra tendência não se briga”, acrescentou.
Volatilidade à frente
Em relatório divulgado na última sexta, a estrategista Teresa Alves, do Goldman Sachs, avalia que o real continua atrativo em um momento de diferencial de juros elevado. “Acreditamos que a política monetária continua representando um vento favorável e que isso deve permanecer assim enquanto as taxas reais permanecerem elevadas”, apontou.
Apesar disso, Alves alertou que pode haver mais volatilidade à frente, e citou ainda o risco representado pelas tarifas dos EUA.
“Após um forte desempenho, podemos ver mais volatilidade de mão dupla no mercado à vista, especialmente à medida que o ruído fiscal aumenta no final do mês”, apontou. “Além disso, o Brasil está entre os países que podem ser mais negativamente impactados por tarifas recíprocas dos EUA.”
Na avaliação de Alexandre Lohmann, economista da Constancia Investimentos, o dólar deve continuar caindo caso a desaceleração da economia e da inflação dos EUA permitirem que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) continue cortando juros. “O crescente diferencial de juros pode abrir espaço para mais queda”, avaliou.
E vale a pena comprar?
Especialistas em investimentos alertam que projetar o comportamento do câmbio é uma tarefa no mínimo complicada, e que por isso a regra de ouro é comprar um pouco da moeda americana em diferentes momentos, como forma de minimizar riscos.
Para Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, “sempre é o momento de comprar dólar, de ter essa diversificação”. “E quando há essas quedas, sempre recomendamos a fortalecer a diversificação. Mas não sabemos o que pode acontecer no futuro. O maior erro é tentar acertar algum patamar que o dólar vai estar em um ou dois meses.”
Matéria publicada no portal InfoMoney, no dia 18/02, às 11:33 (horário de Brasília)