Economista alerta para riscos de interferência no Banco Central: ‘Não faça isto, Brasil’
O ex-economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks, se tornou uma figura constante na comunidade de investidores no X (ex-Twitter), conhecida como fintwit. Brooks é um entusiasta dos crescentes e constantes superávits comerciais proporcionado pelas commodities, fazendo projeção de uma taxa de câmbio justa de R$ 4,50 e classificando a economia brasileira como “Suíça dos trópicos”.
Nos últimos dias, porém, as postagens de Brooks são mensagens de alerta, para que o cenário projetado pelo economista se concretiza. “Não faça isto, Brasil”, finaliza Brooks em uma postagem no qual recomenda à manutenção da independência do Banco Central e a busca pelo equilíbrio fiscal.
O pano de fundo é as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (Bacen), Roberto Campos Neto, que também indicam um provável perfil do indicado para sucedê-lo no comando da autoridade monetária a partir de janeiro de 2025. Lula não está de acordo com a manutenção da taxa Selic em 10,5% decidida na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 19 de junho, além de sua equipe econômica não apresentar um programa de corte de gastos que elimine os déficits primário e nominal e acabe com a trajetória altista da dívida pública.
As falas de Lula nos últimos dias apontaram, pelo contrário, uma busca pela continuidade no ajuste fiscal pelo lado da receita, já esgotado nos primeiros 18 meses de seu terceiro mandato. Na avaliação do Copom, a política fiscal expansionista, juntamente com uma atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos acima ds projeções, é o que está deteriorando a expectativa de inflação para 2025 e 2026 acima da meta de 3% ao ano.
Além disso, os investidores têm receio de que o próximo presidente do Banco Central, que será indicado por Lula, possa ser leniente com a inflação e faça vista grossa com os déficits fiscais, mantendo uma taxa de juros artificialmente baixa para contemplar o Palácio do Planalto, o que tiraria, na prática, a autonomia do Banco Central estabelecida em uma lei aprovada pelo Congresso brasileiro em 2021.
“A Turquia é um conto de alerta para Brasil”, afirma o Brooks ao comparar as possíveis intenções do atual governo brasileiro com que o governo turco, sob a liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan, fez em março de 2021 ao demitir o presidente do Banco Central do país para forçar um corte nas taxas de juros. “O que se seguiu foi um colapso da lira [moeda turca], hiperinflação e a taxa de juros da Turquia é atualmente muito maior do que seria sem esse experimento”, avalia o economista.
“O Banco Central do Brasil é a âncora da estabilidade, trazendo a inflação [do Brasil] ao nível dos países desenvolvidos”, diz Brooks, criticando a fala de Lula de querer “um presidente do Banco Central que não pensa nos mercados”. “A maior âncora de estabilidade não é nem [o ex-presidente Jair] Bolsonaro nem Lula, é um banco central forte e independente. Se começa a desmantelar, tudo isso desmorona…”, prossegue o economista em outra postagem.
Em meio às críticas ao presidente Lula, Brooks faz recomendações para que o Brasil realmente se torne a “Suíça dos trópicos”, abordando que a economia do país é um exemplo de “contração fiscal expansionista”. “O caminho para um crescimento maior do Brasil não é pela expansão fiscal e mais dívida. Brasil já tem a maior taxa de juros dos títulos de 10 anos entre as economias emergentes. Se o Brasil reduz sua d´viida, taxas de juros cairiam e a economia teria um boom. Uma contração fiscal expansionista…”, avalia Brooks, que aponta ser essa uma oportunidade à economia brasileira ao invés de focar esse quadro como um problema.
Matéria publicada pelo Investing no dia 30/06/2024, às 22h07 (horário de Brasília)