Greve nacional em Israel aumenta pressão sobre Netanyahu por acordo com Hamas

Israelenses participaram de greves trabalhistas e protestos em todo o país, em seu movimento mais forte até agora para forçar o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a concordar com um cessar-fogo com o Hamas e garantir a libertação dos reféns em Gaza.

Alguns funcionários públicos de ministérios governamentais não foram aos escritórios ou foram para as ruas. Muitas agências dos correios e agências bancárias foram fechadas, enquanto o Ben Gurion, principal aeroporto do país, suspendeu as decolagens entre 8h e 10h, horário local.

Em um movimento liderado por um fórum dos 200 principais líderes empresariais de Israel, vários shoppings fecharam, afetando lojas de marcas internacionais como Zara, da Inditex SA, e Nike Inc. Muitas empresas de alta tecnologia fecharam seus escritórios, incluindo a Lemonade e o fundo de capital de risco Qumra Capital.

A greve foi convocada pela federação trabalhista Histadrut, embora uma ordem judicial tenha determinado na segunda-feira que ela deveria terminar às 14h30. “Não encontramos nenhum argumento econômico no anúncio da greve”, dizia a decisão do tribunal.

A revolta está aumentando entre os israelenses após os corpos de seis reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro serem encontrados em um túnel em Gaza. Eles foram executados por seus captores, segundo Israel. Cada um foi repetidamente baleado a curta distância pouco antes de serem descobertos, disseram os médicos legistas.

Centenas de milhares de israelenses protestaram em todo o país no domingo, as maiores manifestações desde a invasão mortal por militantes do Hamas que desencadeou a guerra em curso há quase 11 meses.

Críticos acusam Netanyahu de prolongar o conflito — reduzindo assim as chances de eleições antecipadas, que as pesquisas sugerem que ele perderia — em vez de priorizar o retorno seguro dos cerca de 100 reféns restantes ainda detidos em Gaza. As hostilidades se espalharam para a Cisjordânia, outro território palestino, e para o Líbano, ameaçando engolfar a região em uma guerra mais ampla.

Netanyahu defendeu sua posição sobre um cessar-fogo como necessário para garantir que o Hamas não possa se rearmar e manteve-se firme em seu objetivo final de destruir o grupo apoiado pelo Irã. Caso o Hamas sobreviva, alertaram autoridades do governo, os inimigos de Israel se sentiriam encorajados e mais sequestros poderiam ocorrer no futuro.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, pediu a Netanyahu que abandone a insistência de que as tropas israelenses permaneçam no corredor Philadelphi entre Gaza e Egito – um ponto de discórdia importante nas negociações com o Hamas, disseram duas autoridades à Bloomberg. Uma reunião do gabinete de segurança terminou na noite de domingo sem ação sobre sua proposta.

Netanyahu “foi movido principalmente pelo desejo de manter o poder com uma coalizão messiânica estreita e muito radical no governo israelense”, disse Jonathan Dekel-Chen, pai do refém Sagui Dekel-Chen, um israelense-americano de 36 anos.

“Ele preferiu isso, pelo menos até agora, em detrimento do bem-estar de todos os reféns”, disse Dekel-Chen no domingo no programa “Face the Nation” da CBS.

Apesar da pressão pública, não há sinais de que Netanyahu esteja preparado para mudar de curso.

“Aqueles que assassinam reféns não querem um acordo”, disse ele em um comunicado no domingo, alertando o Hamas: “Nós vamos persegui-los, nós vamos encontrá-los e vamos acertar as contas com vocês.”

Matéria publicada pela Bloomberg no dia 01/09/2024, às 17h15 (horário de Brasília)