Israel intensifica ofensiva no Líbano e Gaza enquanto Blinken busca cessar-fogo

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, pressionou nesta quarta-feira por uma interrupção nos combates entre Israel e os grupos militantes Hamas e Hezbollah, mas os pesados ataques aéreos israelenses contra a grande cidade portuária histórica libanesa mostraram que não houve trégua.

Israel começou a bombardear a cidade portuária de Tiro, listada pela UNESCO, cerca de três horas depois de emitir uma ordem online para que os moradores fugissem das áreas centrais. Nuvens espessas de fumaça subiam sobre os prédios residenciais.

Dezenas de milhares de pessoas já haviam fugido de Tiro nas últimas semanas, à medida que Israel intensifica sua campanha para destruir o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza, ambos aliados próximos do Irã.

O porto é normalmente um centro movimentado no sul – com pescadores, turistas e até mesmo pacificadores da ONU que, durante suas folgas de implantações perto da fronteira, passam o tempo lá à beira-mar. Mas as ordens de evacuação de Israel esta semana para a cidade abrangem pela primeira vez grandes partes dela, incluindo áreas próximas ao seu antigo castelo.

Alguns libaneses temem que seu país acabe como Gaza, onde ataques israelenses mataram dezenas de milhares de palestinos e devastaram grande parte do pequeno enclave.

Em Gaza, onde Israel intensificou o ataque ao extremo norte do território desde que matou o líder do Hamas na semana passada, autoridades de saúde relataram pelo menos 20 pessoas mortas em novos ataques israelenses, a maioria no norte.

Blinken, que tem viajado regularmente para o Oriente Médio desde o início da guerra, faz sua primeira visita desde que Israel matou o líder do Hamas, Yahya Sinwar, seu inimigo mais procurado, uma morte que Washington espera que possa dar um impulso para a paz.

A viagem do secretário de Estado é a última grande tentativa de paz dos EUA antes da eleição presidencial de 5 de novembro, entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump, que pode mudar a política dos EUA na região.

Washington também busca impedir uma ampliação do conflito, antecipando a retaliação de Israel por um ataque de mísseis iranianos em 1º de outubro, lançado por Teerã em solidariedade ao Hezbollah e ao Hamas. Blinken disse na quarta-feira que a retaliação de Israel não deve levar a uma escalada maior.

Depois de se encontrar com autoridades israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Blinken viajou para a Arábia Saudita, uma potência regional e aliada próxima dos EUA, onde se encontrou com o ministro das Relações Exteriores, príncipe Faisal bin Farhan. Uma parada na Jordânia foi adiada, mas Blinken deve se encontrar com outros líderes árabes em uma visita a Londres.

No Líbano, o exército israelense disse ter matado três comandantes do Hezbollah e cerca de 70 combatentes no sul nas últimas 48 horas, um dia depois de confirmar a morte de Hashem Safieddine, o herdeiro aparente do grupo militante.

Blinken disse que era hora de Israel capitalizar suas vitórias militares e “transformar esses sucessos em um sucesso estratégico duradouro”.

“O foco precisa estar em trazer os reféns para casa, acabar com esta guerra e ter um plano claro para o que vem a seguir.”

Desde que combatentes liderados pelo Hamas atacaram cidades israelenses, matando 1.200 pessoas e capturando mais de 250 reféns, Israel devastou a Faixa de Gaza para erradicar o Hamas, matando quase 43.000 palestinos. Na semana passada, Israel matou Sinwar, suspeito de ser o mentor dos ataques de 7 de outubro de 2023.

No último mês, Israel também intensificou dramaticamente a guerra no Líbano contra o Hezbollah, um grupo militante separado apoiado pelo Irã, que lançou foguetes contra Israel em apoio aos palestinos. Israel lançou uma ofensiva terrestre e matou a maior parte da liderança do Hezbollah em ataques aéreos que deslocaram 1,2 milhão de pessoas.

CHANCE PARA A PAZ?

Washington vê a morte de Sinwar como uma oportunidade de buscar a paz, já que agora seria mais fácil para Netanyahu e seu governo de extrema direita argumentarem que grandes objetivos foram alcançados em Gaza.

Mas os moradores de Gaza dizem que, desde a morte de Sinwar, Israel só intensificou os ataques nas áreas do norte, onde diz que os combatentes do Hamas estão se reagrupando.

Os hospitais deixaram de funcionar e estão ficando sem caixões e mortalhas para os mortos. Uma campanha de vacinação contra a pólio apoiada pela ONU, lançada após um bebê de Gaza ficar paralisado pela doença pela primeira vez em 25 anos, foi interrompida.

“Apelamos ao mundo, que não conseguiu fornecer proteção e abrigo ao nosso povo e foi incapaz de entregar comida e remédios, que faça um esforço para enviar mortalhas para nossos mortos”, disse o Ministério da Saúde de Gaza em comunicado.

Blinken disse que novas propostas estavam sendo examinadas em um esforço para conquistar a liberdade dos reféns mantidos em Gaza e pôr fim à guerra.

Ainda assim, não há sinais de trégua nos combates. O Hamas diz que não libertará os reféns que ainda mantém sem uma promessa israelense de encerrar a guerra em Gaza. Israel diz que não parará de lutar em Gaza até que o Hamas seja aniquilado, e no Líbano até que o Hezbollah não seja mais uma ameaça.

Diplomatas dizem que Israel está aproveitando sua vantagem militar para garantir uma posição forte antes que uma nova administração dos EUA assuma o cargo após a eleição de 5 de novembro.

A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) disse nesta quarta-feira que um de seus funcionários foi morto quando um veículo da UNRWA foi atingido em Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza.

Médicos disseram que o irmão do homem também foi morto. A prefeitura de Gaza disse que dois trabalhadores da cidade foram mortos e outros três ficaram feridos em um ataque lá.

No Líbano, a ofensiva de Israel expulsou pelo menos 1,2 milhão de libaneses de suas casas e matou 2.530 pessoas, incluindo pelo menos 63 nas últimas 24 horas, disse o governo libanês na terça-feira.

Matéria publicada pela Reuters no dia 23/10/2024, às 07h34 (horário de Brasília)