Mercado já projeta 5 cortes de juros nos EUA em 2025 e vê possível medida emergencial
Agentes de mercado aumentaram as apostas de que o Federal Reserve cortará os juros ainda este ano e passaram a considerar a possibilidade de uma redução emergencial, antes mesmo da próxima reunião do banco central, em meio a temores de recessão global provocados pelas tarifas anunciadas pelo governo dos EUA.
Os mercados passaram a precificar 125 pontos-base de cortes até o fim do ano, o equivalente a cinco ajustes de 0,25 ponto percentual, segundo contratos de swap de juros overnight.
Embora parte do movimento tenha sido revertida, a alta foi significativa: na semana passada, apenas três cortes estavam totalmente precificados. Os swaps também apontam cerca de 40% de chance de uma redução de 25 pontos-base já na próxima semana — antes da decisão de política monetária marcada para 7 de maio.
A reprecificação rápida reflete o temor que domina os mercados globais, com o presidente dos EUA, Donald Trump, mantendo a postura firme em relação às tarifas comerciais anunciadas na semana passada. “Esqueçam os mercados por um segundo”, disse ele a jornalistas no domingo à noite.
Investidores estão se desfazendo de ativos de risco e buscando segurança nos títulos públicos, o que derrubou os rendimentos. O juro do Treasury de dois anos — mais sensível à política monetária — chegou a cair 22 pontos-base nesta segunda-feira, para 3,43%, acumulando queda de cerca de 50 pontos-base desde o anúncio das tarifas, na última quarta-feira.
“Não há boas notícias. O mercado está ficando feio”, disse Michael Brown, estrategista da Pepperstone. “O que o mercado quer é uma mudança de postura, seja da Casa Branca ou do Fed. No momento, nenhuma parece provável, o que aumenta a perspectiva de mais dor econômica e nos mercados.”
Cortes emergenciais de juros são incomuns e foram usados pela última vez pelo Fed no início da pandemia de Covid-19, em 2020. Em agosto, operadores chegaram a esperar uma medida fora do calendário quando as ações caíram diante do desmonte de posições em iene, mas o Fed manteve a linha.
Na semana passada, o volume de contratos futuros de juros com vencimento em abril disparou, encerrando a quinta-feira em nível recorde. Pelo menos uma operação de grande porte parece estruturada para lucrar com uma mudança de política monetária antes da próxima reunião do Fed, considerando a data de vencimento do contrato.
Na Europa, os títulos alemães também dispararam nesta segunda, com o rendimento do papel de dois anos recuando até 20 pontos-base, para pouco acima de 1,60%, menor nível desde outubro de 2022. Moedas de refúgio, como o iene e o franco suíço, ganharam força ante o dólar.
Recessão à vista
Nos últimos dias, o JPMorgan Chase passou a prever recessão nos EUA ainda em 2025. O economista-chefe Michael Feroli projeta que o Fed inicie os cortes em junho e mantenha a trajetória de redução a cada reunião até janeiro.
O Goldman Sachs também revisou suas projeções na semana passada. Agora, considera três cortes como cenário-base tanto para o Fed quanto para o Banco Central Europeu.
Governos ao redor do mundo correm para negociar com autoridades dos EUA e tentar reduzir as tarifas aplicadas sobre suas exportações. A incerteza sobre a possibilidade de acordos derrubou os mercados.
Operadores também reduziram apostas de cortes no BCE e no Banco da Inglaterra, diante da expectativa de que os dois precisarão agir para proteger suas economias. Nos dois casos, os swaps agora indicam três cortes de 0,25 ponto até o fim do ano, com cerca de 50% de chance de um quarto ajuste.
Ainda assim, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na sexta-feira que não pretende agir com pressa, mesmo diante da turbulência. Em discurso, disse que a inflação ainda elevada exige cautela, já que as tarifas devem pressionar os preços temporariamente.
“Não espere que o Fed salve os mercados com um corte emergencial”, disse Elias Haddad, estrategista da Brown Brothers Harriman. “Esta é uma crise causada por decisões políticas, e não há motivo para o Fed socorrer os mercados financeiros.”
Matéria publicada no portal InfoMoney, no dia 07/04/2025, às 07:18 (horário de Brasília)