“Nossa meta é voltar ao etanol ainda este ano”, diz presidente da Petrobras

A Petrobras se prepara para retomar um capítulo histórico de sua trajetória: o etanol. Segundo a presidente Magda Chambriard, a estatal deve voltar a atuar nesse mercado ainda em 2025, resgatando um protagonismo que marcou a companhia desde a década de 1970, quando o combustível renovável ganhou força no país.

“Saímos do etanol no passado recente, mas nossa meta é voltar para o etanol, se Deus quiser, ainda este ano. Vamos também ampliar nossa participação no biodiesel, investir em combustíveis carbono neutro e avançar em projetos de eólica e solar”, disse a executiva durante entrevista ao podcast “De Frente com CEO”, da Exame.

A retomada do etanol simboliza não apenas uma volta às origens, mas também uma resposta à crescente pressão pela transição energética. Para a presidente, no entanto, é preciso olhar além do conceito tradicional e pensar em adição energética.

“O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo, mas pobre em energia per capita. Se quisermos elevar nosso índice de desenvolvimento humano, precisamos gerar muito mais energia – de todas as fontes possíveis”, afirma Chambriard.

Novos horizontes de exploração

Enquanto acelera os investimentos em renováveis, a Petrobras também aposta na expansão da exploração de petróleo e gás. A estatal direciona esforços para a margem equatorial e a bacia de Pelotas e busca oportunidades no litoral africano, região que guarda semelhanças geológicas com a costa brasileira.

“Não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração. O pré-sal deve atingir o pico de produção até 2030 ou 2032. A partir daí, entraremos em declínio, e precisamos de novas reservas. É por isso que estamos investindo na margem equatorial e também olhando para fora do país”, afirma.


Fertilizantes e gás natural

Outro movimento estratégico é a retomada da produção de fertilizantes. As fábricas da Bahia e de Sergipe devem voltar a operar, enquanto a unidade de Mato Grosso do Sul será concluída. Somadas, essas plantas devem consumir cerca de 5 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, ampliando a presença da Petrobras nesse mercado.

“Fazer fertilizante significa ampliar o mercado de gás natural. Estamos rompendo o ciclo vicioso de não investir, porque não há mercado e não ter mercado porque não se investe. A Petrobras pode e deve liderar esse processo”, afirma Chambriard.


Confiança no mercado

Ao ser questionada sobre a visão dos investidores, a presidente da Petrobras reforça que a companhia segue robusta e eficiente.

“A Petrobras é uma tremenda geradora de caixa. Estamos interligando poços em menos tempo, antecipando plataformas e aumentando a produção. Quem apostar contra a empresa vai perder dinheiro”, afirma a presidente.

No podcast, a presidente também reforça que a última plataforma instalada no campo de Búzios atingiu capacidade plena de 225 mil barris por dia com apenas cinco poços. “Tem país que não produz isso”, assegura.
Tarifaço do Trump “não nos atinge”

O impacto do tarifaço anunciado por Donald Trump também foi tema da conversa no podcast da Exame. A presidente da Petrobras explicou que, apesar de o tema ter mexido com a economia brasileira, o setor de petróleo não foi afetado diretamente. “O nosso principal mercado é o mercado brasileiro”, diz a presidente.

Chambriard também conta que o Brasil exporta muito petróleo para a Ásia e uma parte menor para os Estados Unidos.

“Também enviamos derivados, mas em menor proporção. O que a gente exporta para os Estados Unidos poderia ser deslocado para outros mercados, mas nem foi necessário, porque o setor petróleo foi excluído do tarifaço”, diz a presidente que reforça que a estatal mantém uma presença global comparável a gigantes como Shell, BP, Chevron e Equinor.


Diversidade na liderança – e na energia

Durante sua gestão, que completou um ano em junho deste ano, Chambriard já conseguiu um grande marco: pela primeira vez na história a Petrobras alcançou a maioria feminina em sua diretoria. Para Chambriard, a conquista não foi fruto de cotas, mas de um processo justo de seleção.

“Coloquei a luz igualmente sobre homens e mulheres. O resultado foi uma diretoria equilibrada e diversa. Esse olhar feminino agrega e fortalece a empresa”, afirma a executiva que entrou na Petrobras na década de 1980.

Quando o recorte é transição energética, a presidente da Petrobras afirma que a expansão da matriz energética brasileira não é apenas um tema setorial, mas um fator diretamente ligado ao desenvolvimento humano do país.

“Quem consome mais energia no mundo também tem os maiores níveis de qualidade de vida. O Brasil precisa ampliar sua geração energética em todas as frentes e a Petrobras terá papel decisivo nesse processo”, afirma.

Matéria publicada no portal InfoMoney, no dia 22/08/2025, às 06:00 (horário de Brasília)