Parlamentares israelenses votarão em eleições antecipadas em golpe para Netanyahu
A oposição de centro e esquerda de Israel disse que está apresentando um projeto de lei para dissolver o parlamento e ganhou o apoio de dois partidos ultraortodoxos no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, abrindo a perspectiva de eleições antecipadas se a legislação passar por quatro rodadas de votação.
Os dois partidos religiosos, Judaísmo Unido da Torá e Shas, dizem que não podem mais participar do governo porque este está tentando recrutar homens ultraortodoxos para o exército, encerrando uma isenção de décadas.
A questão é altamente controversa em Israel, especialmente porque a guerra de 20 meses em Gaza está afetando dezenas de milhares de reservistas. O exército afirma precisar de mais tropas em campo, e a Suprema Corte considerou a isenção ultraortodoxa ilegal.
Os partidos religiosos buscam suavizar e adiar qualquer lei de recrutamento. Netanyahu e seus aliados estão trabalhando em um acordo de última hora, argumentando que, dadas as crises que o país enfrenta, este é o momento errado para dissolver o governo.
“Ir a eleições agora, enquanto há reféns em Gaza e a questão iraniana está chegando a uma decisão, paralisaria o país”, disse Ze’ev Elkin, membro da coalizão de Netanyahu, à Rádio do Exército.
Netanyahu deveria testemunhar na quarta-feira em seu julgamento por corrupção, mas pediu para ser dispensado, alegando doença.
O processo legislativo pode levar de semanas a meses e pode ser interrompido caso se chegue a um acordo. Se o projeto de lei não for aprovado em nenhuma das quatro votações, a oposição fica impedida de apresentá-lo novamente por seis meses.
O governo, o mais religioso e de direita da história do país, não precisa convocar eleições até o outono de 2026. Dependendo da rapidez com que o projeto de lei tramitar, as eleições poderão ser marcadas para o final deste ano ou para o primeiro trimestre de 2026.
O centro e a esquerda querem um fim rápido para a guerra em Gaza e expulsar a extrema direita do poder. Os ultraortodoxos estão dispostos a se juntar a eles devido às suas próprias preocupações com o recrutamento militar.
Netanyahu e seus aliados perderam popularidade desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 e a subsequente guerra em Gaza, e não há previsão de que obtenham maioria nas próximas eleições.
No ano passado, o tribunal superior de Israel ordenou que o governo aprovasse uma lei de alistamento para os ultraortodoxos, ou haredim, que foram isentos do serviço militar para que pudessem se concentrar em estudos religiosos.
O recrutamento de homens haredi aliviaria grande parte da pressão sobre as forças de reserva israelenses, que vêm sendo convocadas há meses desde o início da guerra — afetando famílias, empresas e a economia. Pesquisas mostram que uma sólida maioria da população apoia o recrutamento de homens haredi.
Os partidos religiosos respondem às autoridades rabínicas, que consideram a questão existencial, e insistem que seus homens possam continuar estudando em seminários, o que, segundo eles, é tão importante para vencer as guerras de Israel quanto o combate. Sua base eleitoral lhes garante assentos suficientes no parlamento para torná-los cruciais para a formação de qualquer governo. Dos 10 milhões de habitantes de Israel, 1,4 milhão são haredi.
Matéria publicada na Bloomberg, no dia 11/06/2025, às 07:58 (horário de Brasília)