Petrobras prepara diretrizes de negócios até 2029 com foco em petróleo e gás; investimentos podem chegar US$ 110 bilhões
A Petrobras vai anunciar, em novembro, as diretrizes de negócios para os próximos cinco anos com investimentos que podem alcançar US$ 110 bilhões, ante os US$ 102 bilhões do plano atual, segundo apurou o Valor. A tendência é que a empresa mantenha a produção de petróleo e gás como carro-chefe. A prioridade do Plano Estratégico 2025-2029, o primeiro sob a gestão de Magda Chambriard, estará na exploração de novas fronteiras, caso da Margem Equatorial e da Bacia de Pelotas, e na atuação em petroquímica e fertilizantes. Os projetos em baixo carbono, que ganharam relevância na gestão anterior da companhia, ainda farão parte do plano, embora devam ter menor atenção.
As indicações de que o plano não deve priorizar os investimentos em baixo carbono chamam a atenção de analistas e de fontes próximas da companhia em meio a um cenário de emergência climática. Projetos de energia limpa, como eólica, solar e hidrogênio verde, ajudam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Procurada, a Petrobras não quis comentar.
Na visão de analistas, os compromissos da estatal com o governo de ampliar a oferta de gás e de garantir a reposição de reservas de petróleo, além do perfil da própria presidente da Petrobras, devem fazer com que a aposta nos hidrocarbonetos seja o principal direcionador do novo plano, que ainda não tem data para ser anunciado e que deve ser submetido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes da divulgação.
“Há receio de que haja aumento grande de capex e gere frustração na execução” – Ilan Arbetman
O plano atual, para o período 2024-2028, prevê US$ 102 bilhões em investimentos, dos quais 11% são voltados para iniciativas de baixo carbono. Não fica claro ainda qual será o percentual para energia limpa no novo plano, mas analistas descartam uma ênfase maior nessa área. Fontes ligadas à empresa dizem que todos os sinais do plano, até agora, apontam para desafios ligados ao aumento de reposição de reservas de petróleo e gás. As tarefas incluem, por exemplo, endereçar soluções para o licenciamento ambiental, tema diretamente vinculado à exploração da Margem Equatorial, e trabalhar na reposição de reservas. “Querem [a Petrobras] achar um novo pré-sal”, disse uma fonte. A descarbonização está citada no novo plano, mas não no topo da lista.
No ano passado, a diretoria de Jean Paul Prates, demitido em maio de 2024, propôs ao conselho de administração direcionadores para o plano. O pacote foi aprovado em junho de 2023, cinco meses antes da divulgação do plano em si, e tinha como um dos objetivos o aumento do investimento em iniciativas de baixo carbono. Neste ano, a companhia não divulgou esses direcionadores. Magda Chambriard assumiu a Petrobras em maio, o que, segundo os especialistas, deixou o prazo apertado para a elaboração desse passo preparatório.
Felipe Perez, chefe-estrategista de combustíveis e refino na S&P, afirma que existe uma expectativa do mercado para saber os direcionamentos da nova gestão da companhia, mas pondera que a estatal costuma fazer boas apresentações do plano. “É importante que a empresa seja transparente na mensagem para dar confiança tanto ao investidor quanto à própria população.” O analista reforça que, ainda que o documento ajude a entender os planos da diretoria, não é algo inflexível. “O plano determina a perspectiva da Petrobras e como ela quer se posicionar. Mas também temos em mente que esse plano não é escrito em rocha, ele tem de ser adaptado para novas condições de mercado que vão surgindo”, diz.
Para Ilan Arbetman, analista da Ativa, o valor total do investimento do plano atual pode aumentar diante da insatisfação do governo com a gestão passada da Petrobras: “Existem projetos em aberto que podem ser incluídos no plano. Mas, por outro lado, também há receio de que a nova gestão tenha um aumento grande desse volume e que gere uma frustração depois na execução do Capex [investimento], seja pela inflação dos custos ou por dificuldades com a regulação.”
Monique Greco, analista do Itaú BBA, afirma que a gestão atual da Petrobras já declarou não ter a intenção de alterar os direcionadores do plano atual. “Magda Chambriard tem reforçado que o foco é entregar o plano, não mudá-lo. Esperamos que haja ajustes anuais regulares, principalmente ajustes inflacionários, mas o foco permanecerá no crescimento da produção e na descoberta de novas reservas.” Na visão de Greco, o novo documento deve ilustrar uma inclinação maior para a “molécula” [biocombustíveis] do que para o “elétron” [geração de energia de fontes limpas], como os diretores têm destacado. “Pode ser que haja um rebalanceamento dos projetos, priorizando aqueles de biorrefino e combustíveis renováveis em detrimento de projetos focados em solar e eólica.”
A analista do Itaú BBA destaca alguns pontos que estarão no foco dos investidores na divulgação do plano. A curva de investimentos, dividida entre a chamada carteira em implantação, que são os projetos aprovados, e a carteira em avaliação, de processos que ainda estão no processo de aprovação. Na projeção de investimentos, Greco reforça a atenção sobre a potencial aquisição da refinaria de Mataripe, na Bahia, aquisição de bloco na Namíbia e investimento em navios para a Transpetro.
O volume de produção de petróleo e gás que deve ser projetado pela estatal para os próximos anos também desperta atenção. Isso porque, nos últimos planos, conforme lembra Greco, uma parte dos investidores defendeu que havia um “excesso de conservadorismo nas projeções de produção da Petrobras”. Outra parte do mercado reforça que existe um gargalo na cadeia de fornecedores do setor, o que pode atrasar projetos.
Entre fontes da empresa, ainda há dúvidas sobre a financiabilidade do novo plano considerando os parâmetros atuais da Petrobras na área financeira. A petroleira tem como política pagar 45% do fluxo de caixa livre na forma de dividendos e limita o teto da dívida a US$ 65 bilhões.
O diretor financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo, afirmou em entrevista à “Bloomberg” em 17 de setembro que o novo plano estratégico da estatal terá níveis realistas de investimentos e pode aumentar o limite de dívida da companhia. Segundo o executivo, as análises incluem níveis de caixa, investimentos e potencial aumento no teto atual de dívida. “Se houver um aumento do limite da dívida, isso não significa que vamos aumentar a dívida”, disse Melgarejo. “Seria apenas um limite para ter eventual flexibilidade.” Segundo o executivo, o próximo plano será ainda mais focado na expansão das reservas de petróleo e gás natural da empresa.
Matéria publicada pelo Valor Econômico no dia 10/10/2024, às 05h01 (horário de Brasília)