Putin enfrenta apelos por paz na Ucrânia enquanto Rússia busca protagonismo no BRICS
A Rússia deseja que a cúpula do BRICS mostre a crescente influência do mundo não ocidental, mas os parceiros de Moscou, incluindo China, Índia, Brasil e países árabes, estão pressionando o presidente Vladimir Putin a encontrar uma forma de encerrar a guerra na Ucrânia.
O grupo BRICS agora representa 45% da população mundial e 35% da economia global, com base na paridade de poder de compra, embora a China responda por mais da metade dessa força econômica.
Putin, retratado pelo Ocidente como um criminoso de guerra, disse a repórteres dos países do BRICS que “o BRICS não se coloca em oposição a ninguém” e que a mudança nos motores do crescimento global era simplesmente um fato.
“Esta é uma associação de estados que trabalham juntos com base em valores comuns, uma visão comum de desenvolvimento e, mais importante, no princípio de levar em consideração os interesses uns dos outros”, disse ele.
A cúpula do BRICS ocorre enquanto líderes financeiros globais se reúnem em Washington em meio à guerra no Oriente Médio, na Ucrânia, uma economia chinesa em desaceleração e preocupações de que a eleição presidencial dos EUA possa desencadear novas batalhas comerciais.
Putin, que enviou tropas para a Ucrânia em 2022 após oito anos de combates no leste do país, foi questionado por repórteres do BRICS sobre as perspectivas de um cessar-fogo na Ucrânia.
PUTIN DIZ QUE NÃO ABRIRÁ MÃO DAS PARTES TOMADAS DA UCRÂNIA
A resposta de Putin, em resumo, foi que Moscou não cederia as quatro regiões do leste da Ucrânia que diz agora fazerem parte da Rússia, embora partes dessas regiões permaneçam fora de seu controle, e que queria que seus interesses de segurança de longo prazo fossem levados em consideração na Europa.
Duas fontes russas disseram que, embora houvesse conversas crescentes em Moscou sobre um possível acordo de cessar-fogo, ainda não havia nada concreto – e que o mundo aguardava o resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos em 5 de novembro.
A Rússia, que está avançando, controla cerca de um quinto da Ucrânia, incluindo a Crimeia, que tomou e anexou unilateralmente em 2014, cerca de 80% do Donbas — uma zona de carvão e aço que compreende as regiões de Donetsk e Luhansk — e mais de 70% das regiões de Zaporizhzhia e Kherson.
Putin disse que o Ocidente agora percebeu que a Rússia sairia vitoriosa, mas que estava aberto a negociações com base nos acordos de cessar-fogo alcançados em Istambul, em abril de 2022.
Na véspera da cúpula do BRICS, Putin se encontrou com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan, para conversas informais que duraram até meia-noite em sua residência em Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou.
XI E MODI PARTICIPAM DA CÚPULA, LESÃO AFASTA LULA
Putin elogiou tanto o Sheikh Mohammed quanto o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, que não participará da cúpula em Kazan, por seus esforços de mediação sobre a Ucrânia.
“Garanto que continuaremos a trabalhar nessa direção”, disse Sheikh Mohammed a Putin. “Estamos prontos para fazer todos os esforços para resolver crises e em prol da paz, no interesse de ambos os lados.”
O presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi participarão da cúpula, embora o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tenha cancelado sua viagem após orientação médica para evitar temporariamente voos de longa distância devido a uma lesão na cabeça que causou uma hemorragia cerebral leve.
O acrônimo BRIC foi cunhado em 2001 pelo então economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, em um relatório que destacava o enorme potencial de crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China neste século.
Rússia, Índia e China começaram a se reunir de maneira mais formal, eventualmente adicionando o Brasil, depois África do Sul, Egito, Etiópia, Irã e os Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita ainda não se juntou formalmente.
A participação do BRICS no PIB global deve subir para 37% até o final desta década, enquanto a participação do Grupo dos Sete principais economias ocidentais cairá para cerca de 28%, em comparação com 30% este ano, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.
A Rússia busca convencer os países do BRICS a construir uma plataforma alternativa para pagamentos internacionais que seria imune às sanções ocidentais.
Mas há divisões dentro do BRICS. China e Índia, os principais compradores de petróleo russo, têm relações difíceis, enquanto os países árabes e o Irã pouco se toleram.
Matéria publicada pela Reuters no dia 22/10/2024, às 08h32 (horário de Brasília)