Queda do preço do petróleo alivia pressões na Petrobras, mas preocupa acionistas
A queda do preço do petróleo no mercado internacional favorece a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, dando um alívio em eventuais pressões para reajustar os combustíveis nos seus primeiros dias no cargo. Mas a perda de valor da commodity pode começar a preocupar os acionistas da estatal, caso o preço se afaste muito dos US$ 80 o barril, avaliam analistas.
Na quarta-feira, 5, o preço do contrato de petróleo do tipo Brent para agosto fechou em US$ 78,41 – em meados de abril, essa cotação estava pouco acima de US$ 90. A queda mais recente reflete principalmente a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de reduzir gradualmente os cortes voluntários de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) a partir de outubro de 2024, até serem completamente eliminados em setembro de 2025. A Opep produz atualmente cerca de 41 milhões de barris por dia, e é responsável por aproximadamente 30% da produção global de petróleo.
Segundo Adriano Pires, diretor da consultoria Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), um preço do petróleo mais alto é bom para os acionistas da Petrobras. “E, para o governo, deveria ser bom também, já que é o maior acionistas da Petrobras.”
Mas há outras questões envolvidas. “Quando o preço do petróleo cai é bom para a (direção da) Petrobras e bom para o governo, porque vai no sentido de que não precisa aumentar o preço da gasolina e do diesel, e vai até diminuir a atual defasagem da gasolina, quem sabe reduzir para um nível mais estável do que está agora”, diz Pires. Ou seja, acaba sendo positivo politicamente para o governo, já que preço alto dos combustíveis costuma se refletir em popularidade mais baixa. “Mas para a empresa em si e para o acionista não é um bom negócio, porque petróleo caro representa mais lucro, mais pagamento de dividendo.”
Combustíveis
Segundo levantamento do Cbie, a defasagem do preço da gasolina da Petrobras em relação ao mercado internacional está em quase 18%, enquanto o diesel, principal produto vendido pela estatal, estaria apenas 0,36% abaixo dos preços externos.
Para o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Eberaldo Almeida, o preço dos combustíveis tem dinâmica própria, “influenciada, mas não definida pelos movimentos do petróleo”. “Aí a tendência de curto prazo (dos combustíveis) é a defasagem aumentar em função da ‘driving season’ nos EUA (temporada americana de férias) e da apreciação do dólar frente ao real com um (cenário) fiscal mais deteriorado”, afirmou.
O especialista lembra que a “driving season”, quando as famílias americanas viajam e o consumo de gasolina e diesel aumentam, começou na semana passada e vai até o início de setembro, pressionando os preços do derivado em todo o mundo. Normalmente, os EUA já respondem por 25% do consumo mundial de gasolina e qualquer variação mexe com a conjuntura mundial da commodity.
Em 2023, porém, esse efeito das férias de verão nos preços foi menor do que em anos anteriores, o que pode se repetir esse ano justamente em função do cenário de juros altos, inflação e hipotecas mais caras.
O líder da área de análise da Warren, Frederico Nobre, considera a queda do petróleo hoje um movimento especulativo de curto prazo. Ele explica que para a Petrobras, o melhor cenário é a estabilidade do petróleo ao redor de US$ 80 o barril e câmbio estável, para permitir a continuidade na geração de caixa e dividendos, sem gerar instabilidade política e represamento de preços de combustíveis. ”Movimentos de curto prazo ocorrem para os dois lados, mas com petróleo ao redor de US$ 80, a Petrobras continua fazendo bastante dinheiro”, explicou.
Para João Daronco, analista da Suno, a queda do petróleo é um movimento natural, diante da queda de demanda. Além disso, o mercado como um todo está mais pessimista diante da demanda menor do que a esperada. “Por conta da queda da demanda, você espera uma queda na oferta, um controle da oferta para conseguir manter os preços. Você encontra todo esse cenário, principalmente da China, o que traz esse pessimismo para o mercado”, disse Daronco. “Se pegar os cortes anunciados, ainda não é um cenário muito atrativo para a Opep, que gostaria que estivesse acima de US$ 80″, concluiu.
Foco na demanda
Eberaldo de Almeida argumenta que o fundamento definidor dos preços do petróleo à frente não será a oferta influenciada pela Opep, mas sim a demanda. Para o ex-presidente do IBP, a tendência para o barril do petróleo tipo Brent nos próximos meses é de estabilidade pouco acima dos US$ 80. Isso em função de uma demanda sem perspectiva de crescimento, ligada a um cenário de juros altos e inflação que freiam o consumo no mundo todo, além dos esforços crescentes de eletrificação e geração renovável, que tiram cada vez mais mercado do petróleo.
“Há de fato uma pressão baixista no preço, mas mais ligada a uma demanda que não tende a crescer”, disse Almeida.
Sobre a oferta, o especialista lembra que países da própria Opep, como Venezuela e Irã, já não vinham cumprindo as cotas estabelecidas, o que amenizava a lógica dos cortes agora abortados mais precocemente do que se esperava. Além disso, lembrou, é crescente a produção fora da Opep, o que já tem ajudado a neutralizar a política do cartel.
“A produção de Brasil, Guiana e os Estados Unidos com o “shale gás” (gás de xisto) já vem crescendo. Ainda vai entrar o Suriname. E dentro da própria Opep+, alguns países como Rússia e Irã vão tentar manter ou aumentar a produção para fazer frente a gastos militares. A oferta tende a aumentar, mas sem um demanda garantida, o que deve fazer o preço flutuar, mas sem perder o patamar dos US$ 80″, avaliou.
Matéria publicada pela Fecombustíveis no dia 06/06/2024, às 04h00 (horário de Brasília)