Rio Grande do Sul e Centro-Oeste lideram expansão de biodiesel e etanol com foco em sustentabilidade

Em posição singular na transição energética a partir da agricultura, o Brasil se revela mundialmente como grande protagonista da produção de biocombustíveis. Na receita, dois dos principais ingredientes, capacidade industrial instalada e oferta de matéria-prima, agora se juntam a um terceiro, o marco legal do Combustível do Futuro, que tende a elevar a fabricação brasileira a outro patamar, segundo especialistas.

Dividindo liderança com o Centro-Oeste, o Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores nacionais de biodiesel feito de soja e avança para buscar terreno também na produção de etanol a partir de cereais de inverno, como trigo e triticale.

Os investimentos no setor são bilionários no RS e se concretizam no número de plantas industriais implementadas nos últimos anos. Além das linhas já em operação na metade Norte, há projetos em andamento para fábrica de etanol em Santiago, na região Central, e novas unidades na região de Passo Fundo, ampliando a produção.

Chefe de pesquisa e desenvolvimento na Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola lembra que a ciência tem papel fundamental no desenvolvimento de cultivares com aptidão energética e destaca que o novo marco legal, que amplia os percentuais de mistura dos biocombustíveis aos combustíveis fósseis, tende a consolidar o Brasil como referência mundial em descarbonização e mitigação de emissões.

— Desde que se criou o Pro-Álcool, essa é a política pública mais importante que nós temos no Brasil voltada a descarbonização, mudanças climáticas, e que realmente vai trazer um impacto muito relevante no desenvolvimento do setor de biocombustíveis, com impacto muito positivo também na agricultura. Mostra para o mundo que nós podemos produzir mais alimentos, mais energia e de forma sustentável — diz Laviola.

O que são biocombustíveis?

  • Os biocombustíveis são aqueles produzidos a partir de matérias-primas vegetais ou orgânicas, podendo substituir ou complementar o uso de combustíveis fósseis, como o petróleo.
  • A maior motivação para seu uso é o potencial de reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
  • Atualmente, o etanol e o biodiesel são os principais biocombustíveis utilizados pela matriz brasileira.
  • Biogás, biomassa e biometano são outros exemplos de produtos já desenvolvidos.

Puxando os investimentos mais agressivos da participação gaúcha no segmento, a Be8 (antiga BSBios), de Passo Fundo, lidera o mercado nacional de biodiesel processado a partir da soja e projeta expansão para a produção de etanol. Prevista para operar a partir de 2025, uma nova usina da companhia vai produzir até 220 milhões de litros de combustível fabricado com trigo e triticale. Além da solução energética, a produção traz outro fôlego para a agricultura, do grande negócio à agricultura familiar:

— O combustível do futuro traz uma grande oportunidade para o setor agrícola, porque é dali que vem a matéria-prima. Então, um dos setores mais beneficiados com essa política pública, sem dúvida, é o agronegócio — diz o presidente da Be8, Erasmo Battistella.

Entre os investimentos mais recentes, a fabricante está finalizando a primeira unidade do BeVant, combustível desenvolvido pela Be8 e chamado pela companhia de “diesel verde brasileiro”. O produto deve estar disponível no mercado a partir de novembro. Seu diferencial é poder ser utilizado imediatamente nos motores, sem necessidade de mistura, substituindo totalmente o diesel fóssil. Utilizado em larga escala, o biocombustível pode ter papel central nas estratégias sustentáveis das empresas que adotarem o compromisso com a redução das emissões na frota brasileira.

A companhia também possui projeto avançado para produção de SAF (o combustível sustentável de aviação) no Paraguai. Com o novo marco legal dos combustíveis, abre-se a possibilidade de incluir o mercado brasileiro na rota dos investimentos sustentáveis para aviação, diz Battistella.

Secretário de Desenvolvimento Econômico do RS, Ernani Polo menciona a importância dos biocombustíveis na reconstrução do Estado após a catástrofe climática. Além do escopo que confere à indústria, vira mais uma alternativa para a produção agrícola, sobretudo para a produção em duas safras, no inverno e no verão.

Segundo Polo, há intenção por parte do Piratini para que o biocombustível gaúcho seja cada vez mais inserido nos programas de incentivo que priorizam a economia verde:

— É um setor importante, conectado com a pauta da sustentabilidade. O Estado tem capacidade industrial instalada, tem a matéria-prima, então o esforço vai ser na maior intensidade e o próprio governador nos orientou a caminhar nessa direção.

Principais produtos e suas matérias-primas

  • Biodiesel: processado em larga escala a partir da soja e da gordura animal, o biodiesel também pode ser fabricado a partir de outras fontes como o óleo palma, a canola e o girassol. A diversidade de matérias-primas para este fim é uma das vantagens competitivas do Brasil para atender às demandas energéticas de um país continental. Atualmente, 14% do diesel é composto por biodiesel, com aumentos gradativos da mistura já previstos nos próximos anos pela Lei do Combustível do Futuro.
  • Etanol: fabricado principalmente a partir da cana-de-açúcar e responsável por puxar o movimento de transição energética brasileira, o etanol vive fase de expansão com o processamento de novas matérias-primas, como o milho. No Rio Grande do Sul, os cereais como trigo e triticale despontam como novas opções produtivas. Além de ser viável como combustível puro, o etanol pode compor a gasolina em teor até 27,5%.
  • SAF: alternativa ao querosene e aposta para a descarbonização da malha aérea, o SAF, ou combustível sustentável de aviação, pode ser produzido a partir de diferentes matérias-primas. Entre elas, biomassa, óleos vegetais, resíduos agrícolas, gordura animal e óleo reciclado. No RS, a Refinaria Riograndense é pioneira em projetos para SAF e diesel renovável.

Matéria publicada pela GauchaZH no dia 29/10/2024, às 22h00 (horário de Brasília)