Raion analisa: Sanções ao petróleo russo pressionam ou aliviam os preços do diesel no Brasil?

As sanções internacionais impostas à Rússia, intensificadas nas últimas semanas pela União Europeia e Reino Unido, poderão afetar a cadeia de importação de combustíveis no Brasil.

A Raion Consultoria analisou dois possíveis cenários em que isso pode se concretizar.

A crescente pressão internacional

O 17º pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia, divulgado em 20 de maio, tem como foco principal o comércio de petróleo do país liderado por Vladimir Putin. A medida, articulada com o Reino Unido, visa restringir o uso da chamada shadow fleet — frota de petroleiros que dribla as restrições internacionais ao escoar petróleo russo por rotas mais longas e complexas.

Embora o novo pacote não interrompa o fluxo de diesel, ele agrava os entraves logísticos e jurídicos enfrentados por países e empresas que mantêm relações comerciais com Moscou.

Nas palavras da chefe diplomática da União Europeia, Kaja Kallas:
“Quanto mais tempo a Rússia continuar em guerra, mais dura será a nossa resposta.”

A retórica beligerante ganhou força após encontros entre líderes europeus e Donald Trump, e crescem as pressões para que países que ainda compram petróleo russo — como o Brasil — enfrentem também consequências comerciais. Nos Estados Unidos, discute-se inclusive a aplicação de tarifas de até 500% sobre negócios envolvendo produtos russos.


O Brasil na rota do diesel russo

Com um déficit estrutural de cerca de 25% entre produção e demanda nacional de diesel, o Brasil tornou-se um dos principais destinos do óleo russo.

Em 2024, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), cerca de 64,8% do diesel importado veio da Rússia — um aumento em relação aos 50,4% registrados em 2023.

Durante visita recente a Moscou, o presidente Lula declarou que 70% do diesel importado pelo Brasil vem da Rússia, reforçando a parceria estratégica entre os países. Apesar das críticas internacionais, o governo brasileiro não sinalizou mudanças nessa política.

De janeiro a abril de 2025, 65% do diesel importado pelo Brasil veio da Rússia, enquanto 22% foram provenientes dos Estados Unidos.

A Petrobras, por outro lado, mantém distância do combustível russo, optando por fornecedores como Estados Unidos, Índia e países árabes. A estatal respondeu por cerca de um terço das importações brasileiras de diesel no último ano.


O impacto no preço e nas estratégias empresariais

A possível intensificação das sanções tende a alterar as estratégias das principais distribuidoras nacionais, como Vibra e Ipiranga, ambas com ações listadas em bolsas internacionais. Executivos do setor já indicam que essas empresas estão reduzindo a exposição ao diesel russo, em busca de menor risco regulatório e financeiro.

O afastamento do óleo russo significa uma migração para o diesel norte-americano, o que pode desdobrar-se em dois cenários distintos.


Cenário 1: Menos diesel russo circulando e preços mais elevados

Nesse cenário, o diesel russo perderia espaço no mercado brasileiro, sendo substituído integralmente pelo diesel norte-americano.

Segundo dados do MDIC, o diesel dos Estados Unidos já foi suficiente, em períodos anteriores, para suprir a maior fatia da demanda brasileira por diesel importado. A exemplo, no mês de novembro de 2022, o produto originado dos EUA representou próximo dos 90% do volume total de diesel importado.

Como o diesel russo é cerca de dez centavos mais barato por litro, na média dos últimos meses, sua substituição levaria a um aumento no custo final do combustível no Brasil.

De acordo com estimativas da equipe de inteligência de mercado da Raion Consultoria, o aumento esperado nas bombas seria de aproximadamente dois centavos por litro.


Cenário 2: Redistribuição dos compradores e desconto nas bombas

As sanções afetam principalmente grandes distribuidoras com exposição ao capital estrangeiro. Empresas menores, por sua vez, poderiam ampliar a importação de diesel russo, aproveitando os preços mais baixos para ganhar competitividade, enquanto as maiores migrariam para o diesel norte-americano e aumentariam seus custos.

Nesse cenário, o volume total de diesel russo importado se manteria estável: a retração das grandes distribuidoras seria compensada pela expansão das menores.

A consequência seria uma possível perda de market share das grandes empresas, forçadas a competir com os preços mais agressivos praticados pelas distribuidoras menores.

Para o consumidor, essa disputa por mercado poderia se traduzir em um leve desconto nas bombas.

Distribuidoras de menor porte tenderiam a aproveitar essa oportunidade para oferecer combustíveis ligeiramente mais baratos, pressionando as grandes a reduzir suas margens para não perder participação.


O que esperar do mercado nos próximos meses

Grandes distribuidoras devem continuar alinhadas às exigências internacionais de compliance, priorizando o diesel norte-americano. Já empresas menores poderão ocupar o espaço deixado pela retração do diesel russo nesse segmento.

A Raion Consultoria segue monitorando a evolução das sanções e seus desdobramentos sobre os preços internos dos combustíveis.

Caso o cerco à Rússia se intensifique — com propostas como a redução do teto de preço do barril russo de US$ 60 para US$ 50, já em discussão no G7 —, os impactos sobre a política de preços brasileira poderão ser mais expressivos.

Por ora, entretanto, nos dois cenários analisados, os efeitos sobre o consumidor final devem ser marginais.

Seja em um contexto de transição total para o diesel norte-americano, seja em um ambiente de disputa por fatias de mercado, é provável que as variações de preço sejam diluídas ao longo da cadeia e não se traduzam em alterações significativas nas bombas.

Matéria de autoria da equipe de comunicação da Raion Consultoria.