Tensão aumenta no Oriente Médio após assassinato de líder do Hamas em Teerã

O Irã tem o “direito” de punir Israel pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em seu território, disse o Ministério das Relações Exteriores do país nesta segunda-feira, enquanto os Estados Unidos enviaram reforços para o Mar Mediterrâneo para ajudar a defender seu aliado e reduzir o risco de uma confrontação mais ampla.

Israel e a região estão aguardando a retaliação já prometida pelo Irã pelo assassinato de Haniyeh, chefe político do Hamas, em Teerã na semana passada, horas depois de ele ter participado da posse do novo presidente do país.

A região está em alerta desde o assassinato, com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, dizendo a seus colegas do G7 que a resposta do Irã era iminente. Alguns supermercados israelenses ficaram sem água engarrafada durante o fim de semana, e moradores de Beirute sentiram suas casas tremerem na segunda-feira devido a aviões de guerra rompendo a barreira do som — uma demonstração comum de força da Força Aérea Israelense.

O general responsável pelas forças dos EUA no Oriente Médio, Michael Kurilla, estava na região durante o fim de semana para ajudar a reunir uma coalizão semelhante à que ajudou a defender Israel em abril, quando o Irã disparou centenas de mísseis e drones para punir Israel pelo assassinato de vários oficiais militares em um complexo diplomático iraniano na Síria.

Desta vez, Israel novamente conta com “a liderança dos EUA na formação de uma coalizão de aliados e parceiros para defender Israel e a região contra uma variedade de ataques aéreos”, disse o ministro da Defesa do país, Yoav Gallant, ao secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, segundo um comunicado.

O Irã ficou profundamente envergonhado com o assassinato de Haniyeh em uma acomodação fornecida pelo Estado enquanto ele era um convidado do presidente. A república islâmica afirmou no fim de semana que ele foi morto em um ataque envolvendo um projétil de curto alcance carregando uma ogiva com aproximadamente 7 kg de explosivos, sem especificar a origem ou o método do ataque.

Falando em uma coletiva de imprensa em Teerã, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, disse que “todas as evidências e sinais indicam que o regime sionista está por trás do crime terrorista”, embora Israel não tenha confirmado nem negado seu envolvimento.

Kanaani disse que, como Israel tem “responsabilidade primeira e última” pelo assassinato, era “direito do Irã agir no caminho de punir o agressor”.

O Irã deixou claro que responderá ao assassinato, que ocorreu um dia após o comandante militar do Hezbollah, Fuad Shukr, ser morto em um ataque direcionado em Beirute, que foi reivindicado por Israel. Israel culpa o Hezbollah, o grupo militante baseado no Líbano, pelo ataque a um campo de futebol nas Colinas de Golã ocupadas por Israel no mês passado, que matou 12 jovens.

Hezbollah e Hamas, o grupo militante que realizou o ataque de 7 de outubro contra Israel, são ambos parte de uma aliança apoiada pelo Irã conhecida como o eixo de resistência.

Analistas acreditam que a resposta do Irã ao assassinato de Haniyeh pode envolver as diferentes partes de seu eixo lançando ataques simultaneamente. A aliança também inclui os rebeldes Houthi no Iêmen e grupos de milícias no Iraque e na Síria.

O Major General Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária de elite do Irã, sugeriu na segunda-feira que Israel subestimou como o Irã retaliaria ao assassinato de Haniyeh. “Quando eles receberem uma resposta forte, perceberão que calcularam mal”, disse ele em um discurso público, sem detalhar as possíveis ações iranianas.

O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, usou uma visita de fim de semana a Teerã para fazer um apelo por calma, embora seu anfitrião não tenha mostrado sinais de recuar de sua promessa de vingança.

Ali Bagheri Kani, ministro das Relações Exteriores interino do Irã, reiterou a “determinada seriedade” do país em responsabilizar Israel e pediu aos países da região que se unissem contra Israel, a quem ele acusou de “genocídio” em Gaza.

Kanaani também acusou os EUA de serem cúmplices no assassinato de Haniyeh, que abalou a liderança teocrática do Irã, e pediu a Washington que parasse de apoiar Israel. Os EUA negaram qualquer conhecimento prévio do assassinato.

“É dever dos EUA pressionar o regime sionista para parar seus assassinatos e crimes e interromper o envio de armas para este regime”, disse ele.

Matéria publicada pelo Financial Times no dia 05/08/2024, às 09h02 (horário de Brasília)