Trump ameaça impor tarifas de 100% à Rússia e promete armas para a Ucrânia

O presidente dos EUA, Donald Trump, ameaçou impor duras penalidades econômicas à Rússia se o país não encerrar as hostilidades com a Ucrânia em 50 dias e prometeu novos fornecimentos de armas para Kiev.

“Vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias, tarifas de cerca de 100%”, disse Trump na segunda-feira, durante uma reunião com o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, na Casa Branca.

Trump afirmou que as taxas viriam na forma de “tarifas secundárias”, sem fornecer detalhes. O presidente dos EUA já usou o termo no passado para descrever tarifas impostas a países que comercializam com adversários americanos. As ameaças ecoam a punição prevista em um projeto de lei bipartidário no Congresso que imporia tarifas de 500% a países que comprassem petróleo e gás russos, como China e Índia.

A decisão do presidente dos EUA de pressionar o homólogo russo, Vladimir Putin, ocorreu após vários meses de tentativas infrutíferas de persuadir Moscou a interromper sua ofensiva na Ucrânia e negociar um acordo de paz. A Rússia intensificou seus ataques com drones e mísseis contra cidades ucranianas nas últimas semanas.

A resposta inicial da Rússia foi indiferente — e o petróleo caiu pelo segundo dia consecutivo, com os investidores duvidando que o plano de Trump representasse um obstáculo significativo às exportações de energia de Moscou. O Brent, referência global, caiu abaixo de US$ 69 o barril, após desvalorização de 1,6% na segunda-feira.

Mais tarde, Trump disse que estava “decepcionado” com Putin, mas não “tinha terminado com ele”, durante uma entrevista à BBC.

Questionado se Trump queria se referir à ferramenta mais conhecida, as “sanções secundárias”, o secretário do Comércio, Howard Lutnick, disse a repórteres que sanções e tarifas eram “ambas ferramentas em sua caixa de ferramentas” e que “é possível usar qualquer uma delas”. Um funcionário da Casa Branca disse que a Rússia pode enfrentar ambas as medidas se não assinar um acordo de cessar-fogo até o início de setembro.

Matt Whitaker, embaixador dos EUA na OTAN, disse que a ação planejada representa, na prática, sanções secundárias aos países que compram petróleo da Rússia. “Trata-se de tarifas sobre países como Índia e China, que estão comprando seu petróleo”, disse ele a repórteres. “E acredito que isso realmente impactará drasticamente a economia russa.”

Trump não elaborou os poderes que usaria para impor tarifas secundárias. Ele disse não ter certeza se “precisamos” que o Congresso aja para avançar, mas afirmou que a legislação “poderia ser muito útil”. O líder da maioria no Senado, John Thune, disse que agora não é o momento de votar o pacote de sanções, mas que os legisladores estão prontos para agir, se necessário.

A China criticou a tentativa dos EUA de pressionar Pequim sobre seus laços energéticos com Moscou. O presidente chinês, Xi Jinping, pediu um envolvimento mais profundo com a Rússia em uma reunião com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, na terça-feira, em Pequim. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse que seu país se opõe à “jurisdição de braço longo”.

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, agora vice-presidente do conselho de segurança da Rússia, zombou do aviso de Trump.

Os comentários marcam o sinal mais recente da crescente impaciência de Trump com a guerra de Moscou na Ucrânia, que se arrasta desde 2022. Mas o acordo também coloca o país em risco de continuar seu bombardeio no campo de batalha antes de retomar as negociações. Putin insiste que quer garantias inabaláveis para resolver o que ele chama de causas profundas do conflito, inclusive encerrando as ambições da Ucrânia na OTAN e o apoio militar ocidental.

Trump afirmou que os EUA estavam enviando um pacote de “armas de ponta”, que inclui baterias de defesa aérea Patriot. O presidente afirmou que os Estados-membros da OTAN pagarão pelo envio das armas à Ucrânia.

“Não vamos comprar, mas vamos fabricar”, disse Trump. “Eles vão pagar por isso.”

Grande parte do que Kiev receberá dependerá da capacidade e disposição da Europa em realizar as compras. A Ucrânia precisa de sistemas de defesa aérea e interceptadores de drones, além de um suprimento constante de projéteis de artilharia e mísseis, enquanto Moscou realiza ataques aéreos recordes.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy disse na segunda-feira em uma publicação no X que havia falado com Trump, que o informou sobre suas discussões com Rutte.

“Discutimos os meios e soluções necessários com o Presidente para oferecer melhor proteção à população contra-ataques russos e fortalecer nossas posições. Estamos prontos para trabalhar da forma mais produtiva possível para alcançar a paz”, disse Zelenskiy. “Concordamos em nos encontrar com mais frequência por telefone e coordenar nossas ações também no futuro.”

O chanceler alemão, Friedrich Merz, saudou o anúncio de Trump. “O presidente Trump e eu discutimos isso diversas vezes nos últimos dias”, disse Merz em um comunicado por e-mail. “Eu lhe assegurei: a Alemanha contribuirá decisivamente.” O governo de Merz suspendeu as restrições de dívida para gastos com defesa, tanto para o exército alemão quanto para a ajuda militar à Ucrânia.

Trump saudou o anúncio de segunda-feira como uma grande mudança de rumo, na tentativa de pressionar Putin a encerrar as hostilidades. Mas os detalhes da decisão também refletem as prioridades de Trump: não custará nada aos EUA e Trump não está destinando nenhum novo financiamento americano à Ucrânia, pelo menos por enquanto.

A Casa Branca não explicou imediatamente como Trump imaginava que o programa de tarifas secundárias funcionária.

Os comentários do presidente nas últimas semanas deixam claro que sua disposição para negociar com Putin está sendo testada. Trump direcionou grande parte de sua ira a Zelenskiy durante os primeiros meses de seu mandato, mas tem se mostrado cada vez mais frustrado com o fato de Putin ainda recusar suas exigências de cessar-fogo.

Muitos detalhes do novo estoque de armas para a Ucrânia também permaneceram obscuros após a reunião de Trump com Rutte.

O chefe da OTAN afirmou que o bloco se coordenará com os aliados para atender às necessidades militares da Ucrânia, incluindo equipamentos de defesa aérea, mísseis e munições. A Alemanha desempenhará um papel importante, ao lado de Finlândia, Dinamarca, Suécia, Noruega, Holanda e Canadá, segundo Rutte.

Horas depois, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius , também em Washington, disse que a Alemanha havia pedido aos EUA que disponibilizassem mais duas baterias de mísseis Patriot para a Ucrânia — e ele e o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth , prometeram resolver quaisquer questões pendentes “de forma rápida e silenciosa”.

Ele disse que isso significava que a Alemanha esperava pagar cerca de US$ 2 bilhões. Berlim também planeja comprar o sistema de mísseis de médio alcance Typhon, disse ele.

Rutte afirmou que o acordo com Trump permitirá que os aliados enviem armas para a Ucrânia mais rapidamente, com os EUA posteriormente reabastecendo os suprimentos dos aliados. O acordo seria “apenas a primeira onda” e mais virão, acrescentou.

“Isto é mais uma vez os europeus se esforçando”, disse Rutte, acrescentando que Putin deveria “levar as negociações sobre a Ucrânia mais a sério”.

Matéria publicada na Bloomberg, no dia 14/07/2025, às 12:22 (horário de Brasília)