Trump tentará arrancar de Putin o acordo de cessar-fogo na Ucrânia na cúpula do Alasca

Donald Trump e Vladimir Putin se encontram em uma base da força aérea da época da Guerra Fria no Alasca na sexta-feira para discutir um acordo de cessar-fogo para a Ucrânia, que os EUA veem como uma possível maneira de acabar com a guerra mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, que não foi convidado para as negociações, e seus aliados europeus temem que Trump possa trair a Ucrânia, essencialmente congelando o conflito e reconhecendo – mesmo que informalmente – o controle russo sobre um quinto da Ucrânia.

Tanto Trump quanto Putin buscam vitórias em suas primeiras conversas presenciais desde que Trump retornou à Casa Branca.

Trump, que descreve a guerra como um “banho de sangue” repleto de riscos de escalada, está pressionando por uma trégua na guerra de três anos e meio, o que reforçaria suas credenciais como um pacificador global digno do Prêmio Nobel da Paz.

Para Putin, a cúpula já é uma grande vitória, pois ele pode usá-la para dizer que anos de tentativas ocidentais de isolar a Rússia se desfizeram e que Moscou retomou seu lugar de direito na mesa principal da diplomacia internacional.

A cúpula, a primeira entre um líder americano e um russo desde 2021, começará às 11h, horário do Alasca (17h00 horário de Brasília).

Trump, que certa vez afirmou que encerraria a guerra da Rússia na Ucrânia em 24 horas, admitiu na quinta-feira que a situação se provou mais difícil do que ele imaginava. Ele afirmou que, se as negociações de sexta-feira corressem bem, a rápida organização de uma cúpula tripartite com Zelenskiy seria ainda mais importante do que seu encontro com Putin.

Uma fonte familiarizada com o pensamento do Kremlin disse que havia sinais de que Moscou poderia estar pronta para chegar a um acordo sobre a Ucrânia, já que Putin entendia a vulnerabilidade econômica da Rússia e os custos de continuar a guerra.

A Reuters já havia relatado que Putin poderia estar disposto a congelar o conflito ao longo das linhas de frente, desde que houvesse uma promessa legalmente vinculativa de não expandir a OTAN para o leste e de suspender algumas sanções ocidentais.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, vestindo um moletom da URSS em sua chegada ao Alasca, disse que Moscou nunca revelou sua posição com antecedência. O Kremlin sugeriu que nenhum documento seria assinado na cúpula, mas elogiou o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, por preparar o terreno para a reunião.

A Ucrânia e seus aliados europeus ficaram animados com um telefonema na quarta-feira, no qual afirmaram que Trump concordou que a Ucrânia deveria se envolver em quaisquer negociações sobre a cessão de terras. Zelenskiy disse que Trump também apoiou a ideia de garantias de segurança para Kiev.

A Rússia, cuja economia de guerra está mostrando sinais de tensão, está vulnerável a sanções adicionais dos EUA – e Trump ameaçou impor tarifas aos compradores de petróleo bruto russo, principalmente China e Índia.

“Para Putin, os problemas econômicos são secundários aos objetivos, mas ele entende nossa vulnerabilidade e nossos custos”, disse a fonte russa.

Um dia antes da cúpula, Putin apresentou a perspectiva de algo mais que ele sabe que Trump quer: um novo acordo de controle de armas nucleares para substituir o último acordo sobrevivente, que deve expirar em fevereiro do ano que vem.

Ponto comum?

Trump disse na véspera da cúpula que acreditava que Putin fecharia um acordo sobre a Ucrânia, mas tem se mostrado hesitante quanto às chances de um acordo. Putin, por sua vez, elogiou o que chamou de “esforços sinceros” dos EUA para pôr fim à guerra.

A fonte familiarizada com o pensamento do Kremlin disse que parecia que os dois lados conseguiram encontrar algum ponto em comum.

“Aparentemente, alguns termos serão acordados… porque Trump não pode ser recusado, e não estamos em posição de recusar (devido à pressão das sanções)”, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.

Putin até agora expressou condições rigorosas para um cessar-fogo total, mas um compromisso poderia ser uma trégua na guerra aérea. Putin disse estar aberto a um cessar-fogo, mas repetidamente afirmou que as questões de verificação precisam ser resolvidas primeiro.

Zelenskiy acusou Putin de ganhar tempo para evitar sanções secundárias dos EUA e descartou a possibilidade de entregar formalmente qualquer território a Moscou. Trump afirmou que transferências de terras poderiam ser uma possível maneira de romper o impasse.

Além do território, a Ucrânia deixou claro, em conversas com aliados ocidentais, que precisa de uma garantia de segurança apoiada por Washington. Não está claro como essa garantia poderia funcionar — e qual o papel dos EUA nela.

Em 2024, Putin declarou suas exigências para o fim da guerra: a retirada das tropas ucranianas das partes das regiões de Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson que elas ainda controlam, uma área que hoje tem cerca de 21.000 km² (8.100 milhas quadradas).

Putin também disse que Kiev teria que notificar oficialmente Moscou de que estava abandonando seus planos de se juntar à OTAN e que pretendia permanecer neutra e não alinhada.

A Ucrânia disse que esses termos equivalem a pedir que ela capitule.

Matéria publicada na Reuters, no dia 15/08/2025, às 05:18 (horário de Brasília)